segunda-feira, 12 de março de 2012

Blogueiro da Veja protege Cachoeira e Demóstenes


Don Vito Corleone, para quem não assistiu ao maior épico do cinema em todos os tempos, foi o maior mafioso já interpretado nas telas. Mantinha uma rede de negócios ilegais, ancorada no jogo, e comprava policiais, políticos e jornalistas. A fachada, no entanto, era a Genco, uma importadora de azeites sicilianos em Nova York.
Don Carlinhos Cachoeira é uma espécie de Corleone brasileiro. Seus amigos, especialmente o senador Demóstenes Torres, agora lembram que ele é um próspero empresário do setor químico – fez isso em entrevista publicada no blog de Reinaldo Azevedo.
Leia, abaixo, o memorável encontro entre dois moralistas, Reinaldo Azevedo e Demóstenes Torres:
O senador Demóstenes Torres, os “Dirceu’s boys” da Internet e a turma do JEG
Dois falsos moralistas: Reinaldo Azevedo e o senador Demóstenes Torres
Vejam vocês como são as coisas. Carlinhos Cachoeira se tornou célebre quando apareceu num vídeo, em 2004, passando uma grana para Waldomiro Diniz, presidente da Loteria Estadual do Rio, amigão de José Dirceu e da petezada. O amigo daquele que a Procuradoria Geral da República chama “chefe de quadrilha” foi condenado a 15 anos de cadeia. Na semana passada, Cachoeira foi preso por comandar um esquema de jogos de azar. Escutas telefônicas revelaram que ele mantinha conversas freqüentes com políticos do estado dos mais diversos partidos. Entre eles, está o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Muito bem!
Não é que a turma de José Dirceu na internet resolveu provocar: “E agora, Reinaldo Azevedo?” E agora o quê? Ora vejam: Demóstenes é articulista do Blog do Noblat, não do meu, mas parece que não dirigiram ao titular daquela página nenhuma indagação. E que fique claro: não escrevo isso em tom crítico. Como Ricardo Noblat publica também textos de terceiros, o que não é o meu caso, acho que faz muito bem em ter Demóstenes entre os articulistas. Só chamo a atenção para este particular para evidenciar o ridículo da coisa.
De resto, vejam com são as coisas. Um: quem pôs a informação em papel impresso sobre as escutas foi a VEJA. Dois: mantenho todos os elogios que fiz ao desempenho do senador Demóstenes Torres até agora. Só não chamo, DO MEU PONTO DE VISTA, a sua atuação de impecável no Senado porque ele apoiou a Lei da Ficha Limpa, e eu a considero inconstitucional. No mais, ele sempre esteve a favor das causas que considerei corretas. Três: se ele fez alguma coisa errada, tem de pagar, como deveria acontecer com qualquer um. Eu não gosto é da impunidade, que tanto bem faz aos “companheiros”.
E como não há vagabundos que me intimidem ou constranjam, segue abaixo uma entrevista que fiz ontem à noite com o senador Demóstenes — entrevista mesmo, não aqueles boletins oficiais que a turma do JEG faz quando um dos seus financiadores é pego com a boca na botija. Demóstenes lembra, entre outras coisas, que a investigação que resultou na prisão de Carlinhos Cachoeira estava no Ministério Público de Goiás, chefiado por seu irmão — e foi esse irmão que a encaminhou à Justiça Federal. Segue a entrevista.
BLOG – O senhor é um dos mais severos críticos dos desmandos do petismo. Não pega mal para alguém com esse perfil ser flagrado conversando com Carlinhos Cachoeira?
DEMÓSTENES TORRES – A sua pergunta demonstra que estão querendo politizar essa história pra me atingir. Fui, sou e serei crítico enquanto a linha deles for a que está aí. Se alguém está achando que vai me intimidar com isso, pode tirar o cavalo da chuva. Em segundo lugar, Reinaldo, eu não fui flagrado coisa nenhuma! Flagrado é aquele que é pego fazendo coisa errada. O que é que eles têm? Telefonemas entre mim e Cachoeira? Eles provam o quê?
Eles provam o quê, senador?
Provam que eu, como a esmagadora maioria dos políticos de cinco Estados, conforme a imprensa divulgou, conversava com ele. Pouca gente sabe fora de Goiás, mas ele é um empresário de sucesso na região, com trânsito na sociedade local, e numa atividade que nada tem a ver com caça-níqueis. Ele é dono de um laboratório de remédios bem-sucedido. Circula na sociedade. Todo mundo — de todos os partidos — fala com ele e com os demais empresários.
O senhor já foi secretário de Segurança de Goiás, entre 1999 e 2002. Não é impróprio alguém nessa posição ter amizade com um contraventor?
Uma lei votada na década de 1990 em Goiás legalizou esse tipo de atividade no estado. E foi legal até 2007, quando o Supremo Tribunal Federal decretou a inconstitucionalidade das leis estaduais que cuidavam do assunto, por entender que essa atribuição é de competência da União. Então, no tempo em que fui secretário de Segurança, também as Leis Zico e Pelé autorizavam a exploração de alguns jogos no Brasil, inclusive de caça-níqueis e bingos. Portanto, a lei estadual goiana, feita com base nas Leis Zico e Pelé, foi aprovada bem antes de eu assumir a secretaria e declarada inconstitucional depois do escândalo Waldomiro, quando eu já era senador, como todos sabem.

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