O julgamento do ex-motoboy Sandro Dota será retomado por volta das 9h desta terça-feira (17) no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. Nesta segunda-feira (16), diante do júri, o réu assumiu ter assassinato da estudante Bianca Consoli, em 13 de setembro de 2011, mas negou ter violentado a jovem. O primeiro dia de julgamento foi encerrado por volta das 22h.
Segundo o Twitter do tribunal, a sessão foi iniciada com a exibição de um vídeo, a pedido do Ministério Público, em que o réu confessa o crime. Em seguida, interrogado pela juíza Fernanda Afonso de Almeida, Dota negou a autoria de estupro. "Eu não violentei a Bianca. Isso está fora de cogitação", diz o réu. "Nós acabamos brigando e ela morreu. Nada justifica o que fiz", afirma o réu, que era cunhado da vítima.
De acordo com o twitter do TJ, ao ser interrogado por um de seus defensores, Dota afirmou que foi até a casa de Bianca para "tirar satisfação" com ela, por ela ter batido no enteado dele. "A Bianca sempre me humilhou e isso me fazia ter raiva dela", disse, em seguida. Ao ser perguntado pelo seu defensor sobre se ele gostaria de dizer algo aos jurados, Dota declarou: "Minha vida está nas mãos de vocês. Decidam com justiça".
Ao final do interrogatório, o motoboy declarou-se arrependido por ter matado a cunhada. "Só quero pagar pelo que fiz", disse. O primeiro dia de julgamento foi encerrado às 22h desta segunda-feira e deverá será retomado às 9h desta terça-feira (19), quando está previsto o início a Carta
O júri do caso Bianca Consoli foi retomado nesta segunda-feira (16). Em 14 de agosto deste ano, o G1 revelou com exclusividade uma carta escrita e assinada pelo preso, de dentro da prisão, na qual ele assume o assassinato da estudante, mas nega o abuso sexual.
A defesa anexou o documento ao processo. Nas três folhas da carta, o réu se compromete também a assumir o assassinato da jovem de 19 anos e negar o estupro dela diante do juiz e dos sete jurados que irão julgá-lo. Ele responde por homicídio triplamente qualificado (por motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima) e estupro contra Bianca.
Em frente ao fórum, parentes e amigos de Bianca seguravam cartazes pedindo justiça nesta segunda. A mãe da vítima, Maria Ribeiro Consoli, era uma delas. Questionada sobre o júri, ele disse que poderá pedir a saída do réu da sala quando for depor. "Tenho nojo de olhar para o assassino da minha filha. Tenho nojo de olhar para Sandro Dota."
Para o advogado Cristiano Medina da Rocha, assistente da acusação, o fato de o acusado assumir o crime não deve diminuir sua pena. "Sandro Dota estuprou Bianca e a matou para esconder esse crime anterior. A defesa vai dizer que ele é semi-imputável, que não pode responder totalmente por seus atos", disse. Ele espera que o réu seja condenado a mais de 40 anos de prisão, sendo 30 pelo homicídio e 12 pelo estupro.
Mauro Nacif, um dos advogados de Dota, espera que o réu receba uma pena de, no máximo, 13 anos de prisão. “Ele [o acusado] cometeu dois crimes: homicídio privilegiado e homicídio qualificado. No primeiro, agiu sob violenta emoção após ter sido provocado por Bianca. No segundo, asfixiou a moça com um saco em sua boca.” Dota nega ter abusado sexualmente da vítima e sua defesa contesta o laudo sobre o estupro.
Julgamento
Essa não é a primeira vez que Dota será julgado pelos crimes. No julgamento anterior, entre 23 de julho e 25 de julho, quando o acusado chegou a alegar inocência quando foi interrogado, ele também pediu a destituição da sua defesa na época. Naquela ocasião, o motoboy alegou que não confiava mais no advogado Ricardo Martins, que sustentava a tese de que seu cliente não havia cometido o estupro e nem o assassinato.
Por causa da desistência do então defensor, a juíza teve de cancelar aquele júri e marcar a nova data.
Quando destituiu seu advogado, Dota chegou a dizer a juíza que não se tratava de uma estratégia e que o próximo júri não iria demorar. Após isso, o motoboy constituiu os advogados Aryldo de Oliveira de Paula, Mauro Otávio Nacif e Eleonora Rangel Nacif. “Dota vai voltar a confessar no júri que matou Bianca, mas não a estuprou”, disse Aryldo de Paula, na sexta-feira (13) ao G1.
Em agosto, a equipe de reportagem publicou a carta de Dota, na qual ele escreveu de dentro da Penitenciária de Tremembé, no interior do estado de SP, que “declaro que realmente matei Bianca Consoli, na época minha conhada [SIC], em uma briga em sua residência, e assim confesso que matei referida Bianca Ribeiro Consoli e maiores detalhes irei contar no dia 18 de setembro [a data foi antecipada pela Justiça para o dia 16]. Porém em relação ao estuplo [SIC] da referida Bianca, eu não confesso, porque sou inocente e de forma alguma eu estuplei [SIC] a Bianca, jamais faria isso”.
Segundo a defesa de Dota, a estudante tinha agredido o enteado do motoboy em 2011 e ele foi tirar satisfações com Bianca. Após discutirem, a matou sem que tivesse planejado isso. O garoto citado é filho de Daiana Ribeiro Consoli, com quem o réu estava casado em setembro de 2011. A mulher era irmã da vítima, encontrada morta dentro da casa dos pais no dia 13 daquele mesmo mês. Após a sua prisão, o casal se separou. Daiana, que defendia o marido, mudou de lado e agora faz coro para acusá-lo
A estratégia dos advogados de Dota é que com a confissão do homicídio, o motoboy possa se defender com mais tranquilidade da acusação de estupro. Na carta, ele reforça que não abusou da cunhada. “Quero dizer também que esta acusação de estuplo [SIC] é absurda, eu não tinha nenhum interesse de estuplo [SIC] e também não havia naqueles momentos nenhum clima ou situação para o estuplo”, escreveu.
De acordo com sua defesa, Dota não tinha qualquer tipo de atração por Bianca porque ela sempre o ofendia. Sobre o fato de ter demorado quase dois anos para confessar o assassinato, o motoboy alegou que “demorei a confessar a questão da morte, quero explicar que demorei por motivos particulares e por motivos da minha mente e de minha alma. Sou cristão e estou arrependido daquilo que fiz, pois não confesso a questão de sexo”.
Para o advogado Cristiano Medina da Rocha, que representa a família de Bianca, a carta é apenas parte da estratégia da nova defesa e não mostra o que ocorreu no dia do crime.
Agora, caso Dota queria destituir novamente seus novos advogados, um defensor público deverá fazer sua defesa por decisão da magistrada. Isso impossibilita o cancelamento de mais um júri pela dispensa da defesa.
O crime
Bianca Consoli tinha 19 anos quando sua mãe, Marta Maria Ribeiro Consoli, a encontrou morta dentro de casa, na Zona Leste da capital paulista. A estudante estava com um saco na boca e tinha sinais de agressão pelo corpo. De acordo com a perícia, ela tentou se defender com as mãos, mas foi imobilizada, abusada sexualmente e asfixiada no dia 13 de setembro de 2011.
Dota, atualmente com 42 anos, está preso preventivamente desde 12 de dezembro de 2011 à espera do julgamento. Para o Ministério Público, o motoboy decidiu assassinar Bianca porque ela não quis fazer sexo com ele.
A Promotoria considera como motivo fútil o fato de o assassino ter matado a vítima porque ela se recusou a consentir e manter relações sexuais. Laudo técnico mostra que ela sofreu penetração anal. O meio cruel é caracterizado pela asfixia e o recurso que impossibilitou a defesa se fez presente no momento em que a vítima foi surpreendida pelo agressor quando estava sozinha na residência.
O Ministério Público espera que o motoboy seja condenado a uma pena que gire em torno de 30 a 40 anos de reclusão em regime fechado. “Dota é um assassino frio e calculista”, disse o promotor Pereira Júnior aos jornalistas em coletiva antes do primeiro júri, em julho. Ele não foi encontrado pela equipe de reportagem na sexta para comentar o assunto.
Provas
Outras provas técnicas da Promotoria nas 1.600 páginas do processo contra Dota são: um exame de DNA e um conjunto de depoimentos de testemunhas. O resultado do teste comprovou que a pele achada sob as unhas de Bianca tem o mesmo perfil genético da mancha de sangue que estava na calça jeans que seria dele.
Na época, a roupa foi entregue à polícia pela então mulher do motoboy, Daiana Ribeiro Consoli, irmã da vítima. Quando os dois estavam juntos, eles tinham cópia da chave da casa onde a vítima morava. Segundo Pereira Júnior, várias testemunhas relataram ainda que o acusado estaria assediando a vítima.
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