POR OSWALDO VIVIANI
Ao menos duas das dez operações da Polícia Federal (PF) no Maranhão, chefiadas pelo delegado Pedro Roberto Meireles Lopes, podem ficar comprometidas, caso seja comprovado o envolvimento dele com agiotas que atuavam não só em território maranhense como no vizinho Piauí.
Coordenador de operações contra desvios de recursos da União em prefeituras do Maranhão – Rapinas 1, 2, 3, 4, 5 e 6, Orthoptera 1 e 2, Donatários e Usura – , Pedro Meireles depôs, na quarta-feira (1º), por mais de três horas na Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), em São Luís.
No dia seguinte ao depoimento, a delegada geral da Polícia Civil do Maranhão, Maria Cristina Resende Meneses, declarou que “há indícios da participação do delegado na quadrilha de agiotas”, que, segundo a polícia, é chefiada por Gláucio Alencar Pontes Carvalho, 34 anos, e seu pai, José de Alencar Miranda Carvalho, 72.

Décio Sá entrevista Pedro Meireles após uma operação da PF
Gláucio e Miranda foram presos no dia 13 de junho, acusados de serem os principais mandantes do assassinato a tiros do jornalista Décio Sá, ocorrido em abril, em São Luís. Num depoimento à polícia, que vazou na internet, Gláucio confirmou que Pedro Meireles lhe enviou uma mensagem pelo celular comunicando sobre o assassinato de Décio.
O Jornal Pequeno apurou que a polícia maranhense e a própria Polícia Federal – que no dia 26 abriu uma sindicância para apurar “notícias veiculadas na imprensa” sobre Pedro Meireles – investigam se o delegado, em algumas das operações da PF nas quais esteve à frente, agiu em benefício da quadrilha que seria chefiada por Gláucio e Miranda. Meireles não negou, no depoimento de quarta, manter um vínculo de amizade com Gláucio.
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O delegado federal Pedro Meireles e o ex-prefeito Banga: operação da PF sob suspeita
Na operação “Usura”, desencadeada em 11 de maio de 2011, em São João do Paraíso, entre os 13 detidos estava o suspeito de agiotagem Josival Cavalcanti da Silva, o “Pacovan”, que para a polícia seria o maior concorrente de Gláucio e Miranda.
Além de São João do Paraíso, recursos de municípios como Zé Doca, Bacabal e Cururupu e Serrano do Maranhão eram disputados acirradamente pelos dois supostos grupos de agiotas, que emprestariam dinheiro a candidatos antes das eleições municipais para depois da vitória destes nas urnas tomar conta principalmente da merenda escolar e da compra de medicamentos.
A “fatura” dos empréstimos seria cobrada por meio de contratos sem licitação firmados pelos prefeitos devedores com empresas criadas só para esse fim pela rede de agiotagem.
‘Caso Banga’ – Outra operação da PF comandada por Pedro Meireles, que agora está sob suspeita, é a “Rapina 5”, que em 19 de março de 2010 prendeu o então prefeito de Serrano do Maranhão, Vagno Pereira, o “Banga”.
Na sexta-feira (3), Banga declarou à Rádio Mirante AM que, na ocasião de sua prisão, foi vítima de uma “armação”, orquestrada por Gláucio Carvalho e executada por Pedro Meireles.

José Miranda e Gláucio Alencar: pai e filho, acusados de mandar matar jornalista e chefiar rede de agiotagem, mantinham amizade com Pedro Meireles
De acordo com o ex-gestor, Gláucio insistiu em cobrar um débito de R$ 200 mil, que teria sido contraído pelo antecessor de Banga, Leocádio Olímpio Rodrigues. Banga, na época, ocupava a prefeitura por ser vice de Leocádio, cassado por improbidade administrativa em maio de 2009.
Após se recusar a pagar os R$ 200 mil, Banga, em sua versão, foi preso numa operação chefiada por Pedro Meireles numa estrada vicinal de Serrano, sem mandado de prisão formal, e ficou detido na PF por mais de 40 dias, período no qual o então presidente da Câmara Municipal, Hermínio Pereira Gomes Filho, o “Hermininho” – aliado do prefeito afastado Leocádio –, assumiu o cargo de prefeito.
Hermininho, segundo Banga, teria assinado vários cheques da Prefeitura de Serrano que estavam em poder de Gláucio Alencar.

Pedro Meireles e o advogado Ronaldo Ribeiro, no velório de Décio Sá
Hoje, após ser administrado por ao menos outros três gestores, o município de Serrano do Maranhão tem como prefeito o presidente da Câmara de Vereadores Uaunis Rocha Rodrigues, filho de Leocádio Olímpio Rodrigues.
“Foi tudo uma armação para que Hermininho assumisse e quitasse o débito com o Gláucio”, disse Banga na entrevista à rádio.
O ex-prefeito também declarou ser “muita coincidência” o advogado de Hermininho ser Ronaldo Henrique Santos Ribeiro, amigo do delegado Pedro Meireles e de Gláucio Alencar. Advogados do escritório de Ronaldo Ribeiro defendem Gláucio e Miranda.
A polícia do Maranhão informou que Vagno Pereira pode ser chamado para depor sobre suas acusações nos próximos dias.
Delegado Pedro Meireles chefiou operações que prenderam 14 prefeitos
O delegado Pedro Roberto Meireles Lopes esteve à frente de dez operações da Polícia Federal, que prenderam um total de 14 prefeitos, um vice e 6 ex-gestores, de dezembro de 2007 a maio de 2011.
Na “Rapina 1” (13 de dezembro de 2007), foram detidos os prefeitos José Cardoso do Nascimento, o “Zé Tude” (Araioses); Maria Sonia Oliveira Campos, a “Soninha” (Axixá); Iara Quaresma do Vale Rodrigues (Nina Rodrigues); Marinalva Madeiro Neponucena Sobrinho (Tufilândia); Aldenir Santana Neves (Urbano Santos); Francimar Marculino da Silva, o “Mazim” (Governador Newton Bello); João Teixeira Noronha (Paulo Ramos); Luiz Gonzaga Muniz Fortes Filho, o “Gonzaguinha” (São Luís Gonzaga); e Cleomar Tema Carvalho Cunha (Tuntum).
Na operação “Rapina 2” (2 de abril de 2008), foram dois os gestores presos: Domício Gonçalves da Silva (Centro Novo do Maranhão) e Perachi Roberto de Farias Moraes (Marajá do Sena).
Na “Rapina 3” (5 de março de 2009), nenhum político foi preso.
Quatro ex-prefeitos foram detidos na operação “Rapina 4” (28 de abril de 2009): Nelson Ricardino Castilho (Montes Altos); Patrícia Maciel Ferraz Castilho (Montes Altos); Washington Luís Silva Plácido (Governador Edison Lobão); e Idélzio Gonçalves de Oliveira (São Pedro da Água Branca).
Na operação “Orthoptera” (17 de novembro de 2009), a ex-prefeita de Alcântara, Heloísa Helena Franco Leitão, foi presa.
O então prefeito de Serrano do Maranhão, Vagno Pereira, o “Banga”, foi detido na “Rapina 5”, em 19 de março de 2010.
Na “Rapina 6” (31 de março de 2010), foi a vez do prefeito Antonio Rodrigues de Melo, o “Mão de Ouro” (Satubinha).
A operação “Astiages” (3 de fevereiro de 2011), em Barra do Corda, levou à prisão o prefeito Manoel Mariano de Sousa, o “Nenzim”, e o suspeito de agiotagem Pedro Teles (irmão do deputado Rigo Teles e filho de Nenzim), mas não foi chefiada por Pedro Meireles. O delegado Victor Emannuel Mesquita chefiou a operação. Outro suposto agiota, João Batista Magalhães, o “Magáiver”, também teve a prisão decretada na “Astiages”, mas se escondeu na sede do PT em Brasília até obter um habeas corpus.
Já na “Capitanias Hereditárias/Donatários”, no Incra-MA (fim de fevereiro de 2011), Pedro Meireles atuou, mas nenhum político foi preso. Um “grampo” flagrou uma conversa entre o juiz estadual Sidarta Gautama Farias Maranhão (de Caxias) e o empresário Eduardo José Barros Costa, o “Eduardo DP” (filho da prefeita Arlene Costa, de Dom Pedro). Na conversa, grampeada em janeiro de 2010, eles mencionam dois suspeitos de praticar agiotagem – Gláucio Alencar Pontes Carvalho e João Batista Magalhães. O empresário e o juiz tratam de um valor que Eduardo estaria devendo ao magistrado, e o empresário promete acertar “os juros”, que seriam quitados com a ajuda de Magalhães ou Gláucio.

O suspeito de agiotagem Josival “Pacovan”, que seria o maior concorrente de Gláucio e Miranda, foi preso numa operação chefiada pelo delegado Meirelles
Finalmente, na operação “Usura” (11de maio de 2011), também chefiada por Pedro Meireles, foram presos o prefeito Raimundo Galdino Leite, o “Boca Quente” (São João do Paraíso); o vice-prefeito Itamar Gomes de Aguiar; e o ex-prefeito José Aldo Ribeiro Souza. Igualmente foi detido o suspeito de agiotagem Josival Cavalcanti da Silva, o “Pacovan”, que para a polícia seria o maior concorrente de Gláucio e Miranda.
(Oswaldo Viviani)
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