segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Suspeita sobre delegado pode comprometer operações da PF


POR OSWALDO VIVIANI
Ao menos duas das dez operações da Polícia Federal (PF) no Maranhão, chefiadas pelo delegado Pedro Roberto Meireles Lopes, podem ficar comprometidas, caso seja comprovado o envolvimento dele com agiotas que atuavam não só em território maranhense como no vizinho Piauí.
Coordenador de operações contra desvios de recursos da União em prefeituras do Maranhão – Rapinas 1, 2, 3, 4, 5 e 6, Orthoptera 1 e 2, Donatários e Usura – , Pedro Meireles depôs, na quarta-feira (1º), por mais de três horas na Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), em São Luís.
No dia seguinte ao depoimento, a delegada geral da Polícia Civil do Maranhão, Maria Cristina Resende Meneses, declarou que “há indícios da participação do delegado na quadrilha de agiotas”, que, segundo a polícia, é chefiada por Gláucio Alencar Pontes Carvalho, 34 anos, e seu pai, José de Alencar Miranda Carvalho, 72.
Décio Sá entrevista Pedro Meireles após uma operação da PF
Gláucio e Miranda foram presos no dia 13 de junho, acusados de serem os principais mandantes do assassinato a tiros do jornalista Décio Sá, ocorrido em abril, em São Luís. Num depoimento à polícia, que vazou na internet, Gláucio confirmou que Pedro Meireles lhe enviou uma mensagem pelo celular comunicando sobre o assassinato de Décio.
Jornal Pequeno apurou que a polícia maranhense e a própria Polícia Federal – que no dia 26 abriu uma sindicância para apurar “notícias veiculadas na imprensa” sobre Pedro Meireles – investigam se o delegado, em algumas das operações da PF nas quais esteve à frente, agiu em benefício da quadrilha que seria chefiada por Gláucio e Miranda. Meireles não negou, no depoimento de quarta, manter um vínculo de amizade com Gláucio.
O delegado federal Pedro Meireles e o ex-prefeito Banga: operação da PF sob suspeita
Na operação “Usura”, desencadeada em 11 de maio de 2011, em São João do Paraíso, entre os 13 detidos estava o suspeito de agiotagem Josival Cavalcanti da Silva, o “Pacovan”, que para a polícia seria o maior concorrente de Gláucio e Miranda.
Além de São João do Paraíso, recursos de municípios como Zé Doca, Bacabal e Cururupu e Serrano do Maranhão eram disputados acirradamente pelos dois supostos grupos de agiotas, que emprestariam dinheiro a candidatos antes das eleições municipais para depois da vitória destes nas urnas tomar conta principalmente da merenda escolar e da compra de medicamentos.
A “fatura” dos empréstimos seria cobrada por meio de contratos sem licitação firmados pelos prefeitos devedores com empresas criadas só para esse fim pela rede de agiotagem.
‘Caso Banga’ – Outra operação da PF comandada por Pedro Meireles, que agora está sob suspeita, é a “Rapina 5”, que em 19 de março de 2010 prendeu o então prefeito de Serrano do Maranhão, Vagno Pereira, o “Banga”.
Na sexta-feira (3), Banga declarou à Rádio Mirante AM que, na ocasião de sua prisão, foi vítima de uma “armação”, orquestrada por Gláucio Carvalho e executada por Pedro Meireles.
José Miranda e Gláucio Alencar: pai e filho, acusados de mandar matar jornalista e chefiar rede de agiotagem, mantinham amizade com Pedro Meireles
De acordo com o ex-gestor, Gláucio insistiu em cobrar um débito de R$ 200 mil, que teria sido contraído pelo antecessor de Banga, Leocádio Olímpio Rodrigues. Banga, na época, ocupava a prefeitura por ser vice de Leocádio, cassado por improbidade administrativa em maio de 2009.
Após se recusar a pagar os R$ 200 mil, Banga, em sua versão, foi preso numa operação chefiada por Pedro Meireles numa estrada vicinal de Serrano, sem mandado de prisão formal, e ficou detido na PF por mais de 40 dias, período no qual o então presidente da Câmara Municipal, Hermínio Pereira Gomes Filho, o “Hermininho” – aliado do prefeito afastado Leocádio –, assumiu o cargo de prefeito.
Hermininho, segundo Banga, teria assinado vários cheques da Prefeitura de Serrano que estavam em poder de Gláucio Alencar.
Pedro Meireles e o advogado Ronaldo Ribeiro, no velório de Décio Sá
Hoje, após ser administrado por ao menos outros três gestores, o município de Serrano do Maranhão tem como prefeito o presidente da Câmara de Vereadores Uaunis Rocha Rodrigues, filho de Leocádio Olímpio Rodrigues.
“Foi tudo uma armação para que Hermininho assumisse e quitasse o débito com o Gláucio”, disse Banga na entrevista à rádio.
O ex-prefeito também declarou ser “muita coincidência” o advogado de Hermininho ser Ronaldo Henrique Santos Ribeiro, amigo do delegado Pedro Meireles e de Gláucio Alencar. Advogados do escritório de Ronaldo Ribeiro defendem Gláucio e Miranda.
A polícia do Maranhão informou que Vagno Pereira pode ser chamado para depor sobre suas acusações nos próximos dias.
Delegado Pedro Meireles chefiou operações que prenderam 14 prefeitos
O delegado Pedro Roberto Meireles Lopes esteve à frente de dez operações da Polícia Federal, que prenderam um total de 14 prefeitos, um vice e 6 ex-gestores, de dezembro de 2007 a maio de 2011.
Na “Rapina 1” (13 de dezembro de 2007), foram detidos os prefeitos José Cardoso do Nascimento, o “Zé Tude” (Araioses); Maria Sonia Oliveira Campos, a “Soninha” (Axixá); Iara Quaresma do Vale Rodrigues (Nina Rodrigues); Marinalva Madeiro Neponucena Sobrinho (Tufilândia); Aldenir Santana Neves (Urbano Santos); Francimar Marculino da Silva, o “Mazim” (Governador Newton Bello); João Teixeira Noronha (Paulo Ramos); Luiz Gonzaga Muniz Fortes Filho, o “Gonzaguinha” (São Luís Gonzaga); e Cleomar Tema Carvalho Cunha (Tuntum).
Na operação “Rapina 2” (2 de abril de 2008), foram dois os gestores presos: Domício Gonçalves da Silva (Centro Novo do Maranhão) e Perachi Roberto de Farias Moraes (Marajá do Sena).
Na “Rapina 3” (5 de março de 2009), nenhum político foi preso.
Quatro ex-prefeitos foram detidos na operação “Rapina 4” (28 de abril de 2009): Nelson Ricardino Castilho (Montes Altos); Patrícia Maciel Ferraz Castilho (Montes Altos); Washington Luís Silva Plácido (Governador Edison Lobão); e Idélzio Gonçalves de Oliveira (São Pedro da Água Branca).
Na operação “Orthoptera” (17 de novembro de 2009), a ex-prefeita de Alcântara, Heloísa Helena Franco Leitão, foi presa.
O então prefeito de Serrano do Maranhão, Vagno Pereira, o “Banga”, foi detido na “Rapina 5”, em 19 de março de 2010.
Na “Rapina 6” (31 de março de 2010), foi a vez do prefeito Antonio Rodrigues de Melo, o “Mão de Ouro” (Satubinha).
A operação “Astiages” (3 de fevereiro de 2011), em Barra do Corda, levou à prisão o prefeito Manoel Mariano de Sousa, o “Nenzim”, e o suspeito de agiotagem Pedro Teles (irmão do deputado Rigo Teles e filho de Nenzim), mas não foi chefiada por Pedro Meireles. O delegado Victor Emannuel Mesquita chefiou a operação. Outro suposto agiota, João Batista Magalhães, o “Magáiver”, também teve a prisão decretada na “Astiages”, mas se escondeu na sede do PT em Brasília até obter um habeas corpus.
Já na “Capitanias Hereditárias/Donatários”, no Incra-MA (fim de fevereiro de 2011), Pedro Meireles atuou, mas nenhum político foi preso. Um “grampo” flagrou uma conversa entre o juiz estadual Sidarta Gautama Farias Maranhão (de Caxias) e o empresário Eduardo José Barros Costa, o “Eduardo DP” (filho da prefeita Arlene Costa, de Dom Pedro). Na conversa, grampeada em janeiro de 2010, eles mencionam dois suspeitos de praticar agiotagem – Gláucio Alencar Pontes Carvalho e João Batista Magalhães. O empresário e o juiz tratam de um valor que Eduardo estaria devendo ao magistrado, e o empresário promete acertar “os juros”, que seriam quitados com a ajuda de Magalhães ou Gláucio.
O suspeito de agiotagem Josival “Pacovan”, que seria o maior concorrente de Gláucio e Miranda, foi preso numa operação chefiada pelo delegado Meirelles
Finalmente, na operação “Usura” (11de maio de 2011), também chefiada por Pedro Meireles, foram presos o prefeito Raimundo Galdino Leite, o “Boca Quente” (São João do Paraíso); o vice-prefeito Itamar Gomes de Aguiar; e o ex-prefeito José Aldo Ribeiro Souza. Igualmente foi detido o suspeito de agiotagem Josival Cavalcanti da Silva, o “Pacovan”, que para a polícia seria o maior concorrente de Gláucio e Miranda.
(Oswaldo Viviani)

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