O Fantástico levou ao ar ontem reportagem mostrando o aumento absurdo de acidentes com motos no país, motivado principalmente pelo consumo excessivo do álcool. As concessionárias de moto nunca venderam tanto como nos últimos dez anos. Em 2001, a frota brasileira era de pouco mais de 4,6 milhões. Hoje, passa de 18 milhões, quatro vezes mais.
O Nordeste é o maior mercado consumidor. No ano passado, comprou 35% das motos vendidas no país. Três estados lideram o ranking de mortes envolvendo motocicletas. No Rio Grande do Norte, correspondem a 42% das vítimas. Em Sergipe, 44%.
Mas é no Piauí que os números denunciam a tragédia: os motociclistas representam quase a metade das pessoas que morrem no trânsito. “Em grande parte, quase 90% dos acidentes com moto que chegam ao hospital, o álcool está envolvido. Não há dúvida”, afirmou neurocirurgião Daniel França. No estado, três pessoas morrem por dia vítimas de acidentes com motos.
No pronto-socorro de Teresina, o neurocirurgião Daniel França passou três anos desenvolvendo uma pesquisa com os pacientes. A conclusão é estarrecedora: “Os nossos números mostram que, dos pacientes vítimas de trauma de crânio que chegam ao Hospital de Urgência de Teresina, que é o hospital que drena todas as urgências do Piauí e parte do Maranhão, quase 70% são por acidentes de moto. Então, é uma média 700% superior à média mundial”.
Mas, no interior, a fiscalização esbarra em outro obstáculo. O diretor geral do Detran do Piauí, José Antônio Vasconcelos, afirma que os fiscais encontram resistência da população e de políticos locais. “Os políticos não impedem a fiscalização, porque o estado pode mais. Mas eles não querem e criam obstáculos. Prefeito vai para a blitz e cria problema”, afirmou.
Mesmo assim o pátio do órgão está lotado. O jeito foi parar as fiscalizações. Não é só o Detran. A Polícia Rodoviária Federal piauiense também sofre pressão para não fiscalizar. “Esporádicas, mas por vezes sem êxito. As pressões são diversas, é uma questão cultural da região”, afirma Wellendau Ténorio, da Polícia Rodoviária Federal.
Mesmo assim o pátio do Detran piauiense está lotado. O jeito foi parar as fiscalizações.
O Ministério da Saúde reconhece que o Brasil vive uma epidemia de mortes no trânsito. “Uma parte importante dos óbitos por moto, quase 80%, é de pessoas entre 15 e 39 anos”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
No Maranhão, a situação não é diferentes. O secretário de Saúde, Ricardo Murad, informa em seuFacebook que os hospitais vivem o “caos por causa dos acidentes com motos”. “Muitos vão morrer se medidas drásticas para coibir motos sem documentos, motoqueiros sem habilitação, sem capacete e transportando muitas das vezes até cinco pessoas numa só moto, inclusive crianças.”
Segundo ele, “o sistema de saúde está no limite de sua capacidade e não há como acompanhar o aumento do número de acidentes com vítimas”. O secretário de Saúde de São Luís, Gutemberg Araújo, está enfrentando o mesmo problema. Nesta semana será realizada uma reunião de emergência com a Secretaria de Segurança, Ministério Público e a Famem para a celebração de um pacto visando dar um basta na situação. “Não são só os acidentados que estão ficando sem atendimento, mas todas as pessoas que precisam de leitos de UTis e de internação para tratamento de suas doenças por causa da superlotação provocada pelos acidentes”, diz o secretário.
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