sábado, 14 de abril de 2012

Veja já teme a CPI do Cachoeira


Ex-ministro José Dirceu foi alvo constante da Veja, de Roberto Civita
Acostumada a provocar CPIs, a revista Veja está prestes a se tornar protagonista de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso Nacional. Tudo em função das estreitas ligações entre o redator-chefe da revista, Policarpo Júnior, e o contraventor Carlinhos Cachoeira. Os dois trocaram mais de 200 telefonemas no último ano. Em conversas interceptadas pela Polícia Federal, Cachoeira se vangloriou de ter repassado diversos furos de reportagem ao jornalista – muitos deles, fruto de grampos ilegais. Num outro diálogo, o bicheiro deu ordens a um assessor para que buscasse Policarpo no “aeroporto pequeno”, num indício de que talvez tenha mandado um avião particular buscá-lo.
Essa relação estreita fará com que a CPI de Carlos Cachoeira se transforme também na “CPI da Veja”, como definiu o jornalista Ricardo Noblat, do Globo. Por isso mesmo, nesta sexta-feira, discutiu-se na Abril se a melhor saída não seria o afastamento de Policarpo – ainda que temporário – para tentar estancar o problema. Até agora, Veja se mostrou acuada e não defendeu abertamente seu redator-chefe.
Duas semanas atrás, num box dentro de uma matéria sobre o caso Cachoeira, Veja apenas publicou um diálogo entre o bicheiro e o araponga Jairo Martins, onde os dois exaltam as qualidades do jornalista. Depois, soube-se que, no diálogo completo, os dois também falavam de negócios na área educacional que foram retratados numa capa posterior de Veja. Do diretor de redação da revista, Eurípedes Alcântara, não se leu uma única linha em defesa de Policarpo Júnior após o escândalo. Até agora, o único que saiu em sua defesa, na Abril, foi o blogueiro Reinaldo Azevedo.
Em situações anteriores, Veja adotou uma postura mais agressiva. Anos atrás, quando alguns de seus jornalistas foram convocados a prestar esclarecimentos pela Polícia Federal, a revista publicou editoriais, reportagens e uma coluna de Diogo Mainardi repreendendo a atitude da PF. A cautela de agora talvez decorra do desconhecimento sobre o teor total dos grampos, que vêm sendo vazados seletivamente.
A estratégia de gestão de crise da Abril é semelhante à que se adota em governos. No Distrito Federal, o chefe de gabinete de Agnelo Queiroz, Claudio Monteiro, pediu afastamento quando seu nome foi citado em conversas com Carlos Cachoeira. No governo de Goiás, o procurador-geral do Estado, Ronald Bicca, acaba de se afastar, numa estratégia de contenção de danos.
Ocorre que Policarpo tem décadas de Veja e é querido na redação. É simpático, afável e tem um histórico de serviços prestados à revista. Por isso mesmo, a decisão ainda não foi tomada. Neste fim de semana, às vésperas da CPI que investigará seus métodos, Veja dificilmente conseguirá preservar o silêncio. A resposta virá na manhã deste sábado.
O alerta de Noblat já excita o jornalista Mino Carta, primeiro diretor de redação da revista da Abril, que hoje comanda a sua Carta Capital. Na edição desta semana, que acaba de chegar às bancas, ele dedica a capa ao tema e enumera quem teria medo da investigação.
Seriam eles o senador Demóstenes Torres, os governadores Marconi Perillo e Agnelo Queiroz, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal, e a revista Veja.     O deputado Fernando Ferro (PT/PE), que criou a expressão “PIG – Partido da Imprensa Golpista”, já avisou que um dos primeiros convocados será Roberto Civita, presidente da Editora Abril, que, caso a convocação seja aprovada, experimentará constrangimento semelhante ao de Rupert Murdoch, quando depôs no parlamento inglês para explicar a utilização de grampos ilegais por seus jornalistas.

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