O fortalecimento de uma “economia de classe média” foi o tema principal do presidente dos EUA, Barack Obama, em seu discurso sobre o Estado da União, na noite desta terça (20), no qual ele garantiu que “a sombra da crise passou”. Durante uma hora, Obama falou sobre a necessidade de oportunidades econômicas mais equilibradas e mencionou ainda assuntos como diplomacia, a luta contra o Estado Islâmico, segurança cibernética e o fim do embargo a Cuba.
Pela primeira vez em seus seis anos de mandato, o presidente falou a um Congresso predominantemente de oposição, com maioria republicana em suas duas câmaras. Por isso, por diversas vezes apelou a pontos de união entre os partidos. “Somos mais do que um conjunto de estados azuis ou vermelhos. Somos os Estados Unidos da América”, ressaltou.
Ao mencionar uma série de índices econômicos favoráveis, como a menor inflação em décadas e a criação de 11 milhões de novos empregos nos últimos cinco anos, Obama aproveitou para questionar o perfil que os Estados Unidos pretendem adotar. "Esta noite, viramos a página", anunciou, ao falar sobre as dificuldades superadas nos últimos anos.
“Neste momento – com uma economia em crescimento, déficits em queda, indústria em movimento e produção de energia em expansão – nos erguemos da recessão mais livres para escrever nosso próprio futuro do que qualquer outra nação na Terra. Agora depende de nós escolhermos quem queremos ser nos próximos quinze anos, e nas décadas que virão. Aceitaremos uma economia onde apenas alguns de nós se dão espetacularmente bem? Ou vamos nos comprometer com uma economia que gere lucros crescentes e chances para todos que se esforçarem?”, perguntou.
Ao dizer que o governo tem que fazer mais do que simplesmente “não atrapalhar”, Obama falou em ações como a ampliação da rede de berçários e creches, a necessidade do pagamento de licença médica, licença maternidade e horas extras e do aumento do salário mínimo. Ele citou ainda os planos para ampliar o acesso à universidade pública em todo o país, a redução de burocracia para pequenos empreendedores, melhoras na estrutura comercial e em políticas de exportação e mesmo no acesso à internet.
“São ideias que fazem uma enorme diferença na vida de milhões de pessoas”, destacou. “Queremos que os americanos vençam a corrida”, disse, ao mencionar que 95% dos consumidores mundiais estão fora dos EUA e que quer “trazer de volta os empregos que foram para a China”.
Segundo o presidente, tanto republicanos quanto democratas querem melhorar a infraestrutura do país, mas, para financiar isso, é preciso repensar também uma forma de tornar a economia mais justa, eliminando privilégios que há anos são concedidos aos mais ricos, como isenções e reduções de impostos.
Diplomacia e embargo
Ao abordar o papel dos EUA fora de seu território, Obama deu destaque à atuação na luta contra o terrorismo, falando de sua atuação “de escolas no Paquistão às ruas de Paris”. Além disso, o presidente diz que os Estados Unidos deixam claro sua posição de que grandes países não podem ameaçar nações menores em casos como o que envolvem a Rússia e a Ucrânia. “Hoje a Rússia está isolada economicamente... é assim que a América lidera”.
“Eu acredito em um tipo mais inteligente de liderança americana. Nós lideramos melhor quando combinamos força militar com forte diplomacia. Isso é exatamente o que estamos fazendo neste momento – e, ao redor do mundo, isso está fazendo a diferença”, disse, ao lembrar os esforços no Iraque e na Síria, reforçando que o combate ao Estado Islâmico e à “falida ideologia do extremismo” será uma luta que levará tempo e demandará foco.
Ainda falando sobre diplomacia, ele pediu ao Congresso que comece a trabalhar este ano para encerrar o embargo à Cuba. “O que fizemos não funcionou durante 50 anos, está na hora de tentarmos algo diferente”, afirmou.
A fala de Obama foi comentada, nesta quarta (21), pelo governo brasileiro. Em nota, o Itamaraty disse que o Brasil "recebeu com satisfação a declaração". "O Brasil saúda esse passo positivo na desejada normalização das relações hemisféricas e no relacionamento entre os Estados Unidos da América e Cuba", diz o texto.
Obama citou ainda as negociações sobre desarmamento nuclear com o Irã e disse que sanções aquele país neste momento iriam apenas “garantir a falha da diplomacia”. Assim, anunciou, irá vetar qualquer tipo de sanção apresentada antes do fim das negociações.
Em seu discurso, o presidente abordou ainda a questão da segurança online, se referindo aos recentes ataques que teriam tido envolvimento da Coreia do Norte, embora não tenha citado o nome do país. “Nenhuma nação estrangeira, nenhum hacker, deve ser capaz de fechar nossas redes, roubar nossos segredos comerciais ou invadir a privacidade de famílias americanas, especialmente de nossos filhos. Estamos nos certificando de que nosso governo integre inteligência para combater ameaças cibernéticas, assim como temos feito para combater o terrorismo”, garantiu, ao pedir que o Congresso aprove uma proposta de legislação recém-apresentada.
Minorias e Guantánamo
Barack Obama falou ainda sobre liberdade e minorias, condenando o antissemitismo e o preconceito contra muçulmanos, além de ataques a qualquer cidadão motivados por religião, raça ou orientação sexual.
Por fim, ele reforçou sua determinação em fechar a prisão de Guantánamo. “Não faz sentido gastar três milhões de dólares por prisioneiro para manter aberta uma prisão que o mundo condena e terroristas usam para recrutar. Cumprimos nossa promessa de cortar a população pela metade. Agora é hora de concluir a tarefa. Não irei abrandar minha determinação em fechá-la”, disse.
Convidados
O Discurso sobre o Estado da União acontece tradicionalmente há mais de 60 anos, e é a ocasião em que o presidente se pronuncia perante o Congresso sobre a situação do país e suas propostas e prioridades para o ano que se inicia. Entre os 22 convidados da presidência, que assistiram ao discurso ao lado da primeira-dama, Michelle Obama, estiveram Alan Gross, libertado de uma prisão cubana em 17 de dezembro, e oito cidadãos que escreveram cartas ao presidente, como uma filha de imigrantes ilegais, cuja família será beneficiada pela nova política de imigração proposta por Obama, e Rebekah Erler, uma jovem que relatou as dificuldades superadas por sua família nos últimos sete anos e foi citada pelo presidente em uma analogia com o próprio país, comparado por ele a uma “família unida”.
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