sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Mais de 30% dizem já ter sido vítimas de crimes, indica pesquisa

Três em cada dez moradores de cidades com mais de 15 mil habitantes (32,6%, mais precisamente) dizem ter sido vítimas ao longo da vida de crimes como roubos, furtos, agressões ou ofensa sexual, segundo a primeira edição da Pesquisa Nacional de Vitimização, divulgada nesta quinta-feira (5) pela Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça.

O levantamento foi realizado em parceria com o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública, da Universidade Federal de Minas Gerais, e o instituto Datafolha.
A pesquisa englobou 12 tipos de ocorrências em que pode ser feito o registro policial: furto e roubo de automóveis, furto e roubo de motocicletas, furto e roubo de objetos ou bens, sequestro, fraude, acidente de trânsito, agressão, ofensa sexual e discriminação.
RANKING DA VITIMIZAÇÃO NAS CAPITAIS
(percentual de entrevistados que dizem ter sido vítimas, nos últimos 12 meses, dos crimes listados na pesquisa)
CapitalPercentual (%)
Macapá47,1
Belém41,1
Rio Branco31,9
Fortaleza31,5
Natal31
São Luís28,6
Porto Alegre27,6
Cuiabá26,6
Manaus26,4
Curitiba25,4
Teresina24,9
Boa Vista24,8
Belo Horizonte24,2
Goiânia24,2
Recife24,1
São Paulo24,1
Florianópolis23,9
Salvador23,4
Maceió23,2
Porto Velho22,2
Vitória22,1
Campo Grande21,5
João Pessoa21,5
Rio de Janeiro21
Brasília20,3
Aracaju19,8
Palmas19
Fonte: Pesquisa Nacional de Vitimização

Ao todo, 21% dos entrevistados também afirmaram ter sido vítimas de algum desses crimes nos últimos 12 meses que antecederam ao questionário, aplicado em 346 municípios, de junho de 2010 a maio de 2011 e em junho de 2012. Foram ouvidas 78 mil pessoas com 16 anos ou mais.
O levantamento mostra, no entanto, que somente 19,9% das vítimas procuraram a polícia para registrar as ocorrências. Destas, 54,6% afirmaram que ficaram satisfeitas com a atuação da polícia no episódio.
De acordo com a pesquisa, mais da metade (53,5%) dos entrevistados disseram sentir segurança ao andar pelas ruas da cidade onde moram, enquanto 45,7% dos entrevistados afirmaram se sentir inseguros. Em relação ao bairro onde moram, 48,3% relataram se sentir muito seguros durante o dia, mas à noite esse número cai para 22,5%.
‘Preocupante’, mas não ‘surpresa’
A secretária nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki, disse que considera “preocupantes” os resultados da pesquisa, embora não os classifique como “surpresa”.
“Para a gente que está no dia a dia trabalhando com segurança pública, (isso) pode não traduzir uma surpresa, mesmo porque temos outras pesquisas ligadas a essa divulgada hoje, de vitimização. O que nos traz surpresa é que as pessoas não fazem uso de alguns serviços que estão à disposição. Mas, sim, os números são preocupantes”, afirmou a secretária.
Regina Miki disse que “falta confiança” da população nas polícias e que “há dificuldade” no acesso das pessoas a delegacias em diversas cidades.
Segundo ela, as polícias precisam ter “independência política”. “Primeiro de tudo, sobre o que pode ser feito, é a formação e a capacitação continuada, para atender no dia a dia às demandas e aos interesses da sociedade e depois fazer com que a polícia entenda que ela faz a defesa da sociedade, e não do estado. A independência política das polícias é primordial”, disse.
Classe social e escolaridade
Conforme a pesquisa, a maior parte das vítimas está nas classes mais ricas, mais escolarizadas e entre os mais jovens.
Na classe A, segundo o critério Brasil de estratificação econômica, a taxa de vitimização é de 33,45%. Entre os que têm nível superior de escolaridade, é de 28,8%, e entre os que têm idade de 16 a 24 anos, de 25,3%.
Entre as vítimas com idade de 16 a 24 anos, 79,3% deixaram de reportar à polícia os crimes ou as ofensas que sofreram.
Crimes mais comuns
As agressões e ameaças são os crimes mais comuns, atingindo 14,3% dos brasileiros. Em seguida, aparece a discriminação, com 10,7%. Furtos de objetos e fraudes foram declarados por 9,8% e 9,2% dos entrevistados, respectivamente.
Entre os proprietários de carros, caminhões ou caminhonetes, 2,2% declararam terem sido vítimas de furto pelo menos uma vez na vida e 1%, de roubo. Entre os que possuíam motocicletas ou lambretas, 2% disseram ter sido vítimas de furto e 1,1%, de roubo.
Locais dos crimes
A maior parte das ocorrências se deu dentro da casa do entrevistado (38,3%) ou em suas proximidades, como a rua onde mora (33,3%), o bairro (14,9%) ou a garagem da residência (11,1%). Já roubo de objetos (49,5%), sequestro (32,1%) e ofensa sexual (23,7%) acontecem com maior frequência em lugares abertos.
No local de trabalho, a maioria das vítimas relatou discriminação (20,5%), agressão (15,3%) e furto de objetos (12,6%) e, na maior parte das vezes, por um conhecido.
O medo de ser vítima de agressão sexual é maior entre as mulheres (52,4%) que entre os homens (21,8%). Os mais jovens (43%) também temem mais esse tipo de violência.
Na vizinhança, metade dos entrevistados receia ser vítima de bala perdida (52,0%) e estar no meio de um tiroteio (50,7%). Outros 34,3% têm medo de ser confundidos com um bandido pela polícia e 33,2%, de ser vítimas de extorsão por parte da polícia.
Em Teresina, Belém e Fortaleza, estão os maiores percentuais dos que temem ser assaltados (74,2%, 68,3% e 63%, respectivamente). Em Teresina, João Pessoa e Belém, também estão os indivíduos que mais receiam ter a casa invadida (75,8%, 67,5%, 63,1%).
Nos roubos de carros, de motos e sequestro, a maioria relatou ter sido ameaçada com arma de fogo – 78,5%, 79,1% e 75,2%, respectivamente. Do total de entrevistados, 2,7% declararam possuir arma de fogo em casa.
Regiões
Por região, os percentuais de vitimização são maiores na Região Norte (30,5%), que também reúne os estados com as maiores taxas individuais: 46% no Amapá e 35,5% no Pará. A Região Sul possui os estados com os menores índices: Santa Catarina (17%), Rio Grande do Sul (17,2%) e Paraná (17,4%).
“As distâncias no Norte entre algumas cidades são uma dificuldade, até porque você leva dias para registar a ocorrência, tem que ir de barco. (…) Falta efetivo, faltam delegacias em municípios em que não há polícia judiciária, só tem a PM [Polícia Militar], então o registro é feito em outras cidades. Às vezes, também há dificuldade na mediação de conflitos”, afirmou Regina Miki.
Segundo o Datafolha, na Região Nordeste a taxa chega a 22%, mas é maior no Rio Grande do Norte, com 31,3%, e no Ceará, com 26,6%. Também apresentam percentuais acima da média os estados do Acre (29,9%), Amazonas (25,2%), Roraima (24,8%), Mato Grosso e Tocantins (23% em ambos).
Estados
Os estados com percentuais abaixo da média nacional são Rondônia (18,1%), Minas Gerais (19,1%), e Sergipe (19,4%). Na Região Sudeste, 19,9% disseram ter sido vítimas de algum dos crimes por pelo menos uma vez nos 12 meses que antecederam à pesquisa.
Nos demais estados, a taxa se aproxima da média nacional, pela ordem: Pernambuco (22,2%), Goiás (21,9%), Espírito Santo (21%), Bahia (20,9%), Piauí (20,6%), Alagoas (20,5%), Maranhão (20,5%), Distrito Federal (20,3%), Mato Grosso do Sul (20,6%), São Paulo (20,1%), Paraíba (20,1%) e Rio de Janeiro (20%).
Capitais
Nas capitais, as maiores taxas de vitimização estão em Macapá (47,1%), Belém (41,1%), Rio Branco (31,9%), Fortaleza (31,5%), Natal (31%), São Luís (28,6%), Porto Alegre (27,6%), Cuiabá (26,7%) e Manaus (26,4%).
As menores estão em Teresina (24,9%), Boa Vista (24,8%), Goiânia, Belo Horizonte e São Paulo (as três com 24,2%), Recife (24,1%), Florianópolis (23,9%), Salvador (23,4%), Maceió (23,2%), Porto Velho (22,2%) e Vitória (22,1%).
Do G1

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