quinta-feira, 31 de maio de 2012

Meta de Lula é 'melar' julgamento do mensalão, diz Gilmar Mendes


Ministro do STF diz que ex-presidente fomenta intrigas para constranger tribunal
O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes afirmou ontem que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fomentou intrigas contra ele para constranger o tribunal e tentar 'melar' o julgamento do mensalão, previsto para ocorrer neste ano.

Mendes disse que Lula agiu como uma 'central de divulgação' de informações sobre sua ligação com o senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) e o empresário Carlos Cachoeira, acusado de chefiar um esquema de corrupção.
'O objetivo era melar o julgamento do mensalão', afirmou Mendes, ao chegar para uma sessão do STF. 'Dizer que o Judiciário está envolvido numa rede de corrupção.'
As declarações de Mendes elevam o tom de seu confronto com Lula, iniciado no fim de semana com a revelação pela revista Veja de um encontro que eles tiveram em abril no escritório do ex-ministro do STF Nelson Jobim.
Segundo Mendes, o ex-presidente disse que o julgamento do mensalão deveria ser adiado para depois das eleições deste ano e sugeriu que poderia garantir proteção na CPI que investiga Cachoeira.
Em nota na segunda-feira, Lula se disse 'indignado' com a versão de Mendes, que não foi corroborada por Jobim. A assessoria do ex-presidente divulgou que não se manifestaria sobre as novas declarações de Mendes.
O ministro do STF disse que as pressões para que o julgamento do mensalão seja adiado seguem uma 'lógica burra, irresponsável, imbecil' e voltou a defender a realização do julgamento ainda neste semestre. 'Nós vamos ficar desmoralizados se não o fizermos', afirmou.
Lula chegou na terça a Brasília e se encontraria ontem com a presidente Dilma Rousseff.
Viagens – Bastante irritado, Mendes negou ter viajado num avião arranjado por Cachoeira no ano passado, ao voltar de uma viagem a Berlim, 'fofoca' que ele disse ter sido espalhada por 'gângsteres' e que teria sido mencionada por Lula no encontro de abril.
'Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gângsteres. Estamos lidando com bandidos que ficam plantando informações.' Mendes foi a Granada, na Espanha, participar de um congresso, e depois viajou para Berlim, onde viu sua filha, que mora na Alemanha, e encontrou-se com Demóstenes.
Mendes apresentou comprovantes de que o Supremo pagou as passagens de ida e volta até Granada e que ele mesmo pagou a viagem entre Granada e Berlim.
Disse também que nos últimos dois anos viajou duas vezes a Goiânia de carona em aviões arranjados por Demóstenes. 'Eu poderia aceitar tranquilamente [as caronas]. Estava me relacionando com o senador que tinha o mais alto conceito na República.'
Em depoimento ao Conselho de Ética do Senado, no qual enfrenta processo de cassação, Demóstenes afirmou na segunda que os dois viajaram em aviões comerciais e voltaram ao Brasil em voos separados.
Segundo a Folha apurou, Mendes foi alertado nas últimas semanas de que o PT planejava usar a CPI do Cachoeira para reforçar a ligação de seu nome com o grupo de Cachoeira, acusando-o de ter trabalhado para que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, segurasse uma investigação sobre a atuação de Demóstenes em 2009.
Mendes criticou a imprensa. 'É a uma rede de intrigas que vocês se prestam', afirmou. 'A Folha mesmo virou caixa de ressonância disso.'
Em abril, o jornal publicou uma reportagem sobre uma das conversas telefônicas de Demóstenes com Cachoeira que foram gravadas pela Polícia Federal, em que eles festejam uma decisão de Mendes que deu andamento a uma ação de interesse da Celg (Centrais Elétricas de Goiás).
'Tudo seria normal se não aparecesse isso numa conversa entre Demóstenes e Cachoeira', disse Mendes ontem.
(Folha de S. Paulo)
Para ministros do STF, tanto Lula como Mendes erraram
Um encontro em nada recomendável, da parte de ambos os lados, diante da conjuntura que cerca o Supremo Tribunal Federal no ano de julgamento do mensalão.
Tal comentário circula no STF em reprovação à iniciativa de Lula e de Gilmar Mendes de se reunirem no escritório de Nelson Jobim.
O ex-presidente, com interesses diretos no julgamento, deveria ter calculado melhor os riscos políticos de tal encontro. Deu no que deu, o tiro saiu pela culatra, seja lá o que tenha dito ao ministro.
Da parte de Gilmar Mendes, ele sabia muito bem que, ao aceitar trocar um dedo de prosa com Lula, o tema mensalão seria posto na mesa. A prudência recomendaria evitar tal abordagem, o que implicaria recusar o encontro.
Lula e Gilmar Mendes, porém, decidiram se encontrar em abril. Nenhum dos dois é neófito na política. Muito pelo contrário, conhecem de perto como manobrar o campo das intrigas brasilienses.
Sabem, muito bem, que ninguém solicita e vai a um encontro desses sem interesses particulares e específicos no colóquio. E que, se revelado, gera muito dissabor.
Ainda mais quando um dos personagens decide usá-lo como vacina por se sentir acuado por aliados da outra parte: Gilmar Mendes tem reclamado de rumores divulgados contra ele por petistas.
O episódio virou uma guerra de versões. Talvez nunca saibamos exatamente como o mensalão foi servido no encontro. Mas que foi servido, isso foi. Daí a reprovação de ministros do STF ao fato.
Não que os membros da corte devam viver isolados do mundo. Mas há temas que demandam total reserva e cautela. Tanto da parte do interessado como do julgador.
(Valdo cruz, da Folha de S. Paulo)

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