segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Como o dinheiro entra nas campanhas


O dinheiro chega e sai das campanhas eleitorais por vários caminhos. Os trainees da 54ª turma do Programa de Treinamento da Folha vasculharam as contas de campanha nas capitais do Brasil para descobrir perfis que mostrassem exemplos dos mais variados caminhos.
Embora os exemplos sejam de diferentes cidades brasileiras, casos bastante semelhantes ocorrem no Brasil inteiro. Conheça-os nas reportagens abaixo.
Salvador (BA):

O líder da greve da PM que parou a Bahia no início do ano foi, entre os vereadores eleitos nas capitais brasileiras, o que gastou menos dinheiro por voto em sua campanha. Marco Prisco Caldas Machado (PSDB), conhecido como Soldado Prisco, foi o quarto vereador mais votado de Salvador, com 14,8 mil votos. Para cada eleitor, a campanha do ex-bombeiro dispendeu R$ 0,57. No total, Prisco arrecadou R$ 8.448,37.
Palmas (TO):

Eleito vereador com 2.144 votos em Palmas, Iratã Abreu (PSD) assumirá uma vaga na Câmara Municipal após receber quase o triplo de doações que Emerson Gonçalves Coimbra (PMDB), o segundo candidato que mais arrecadou na cidade. Com uma receita de R$ 906.432, segundo declaração ao TSE, o filho da senadora Kátia Abreu –licenciada do cargo desde outubro por motivos pessoais– gastou R$ 423 por eleitor conquistado, o maior valor por voto no Brasil.
São Paulo (SP):

O PC do B arrecadou pouco mais de R$ 4,5 milhões para as eleições municipais deste ano com empreiteiras que têm contratos relacionados à Copa do Mundo de 2014. O valor corresponde a 25% do total levantado pelo diretório nacional do partido: R$ 18 milhões. Desde 2003, o Ministério do Esporte é gerido por membros da legenda. Nenhuma das empresas financiou o comitê do PC do B nas eleições municipais de 2008. O partido elegeu neste ano 21 vereadores nas capitais brasileiras.
Rio de Janeiro (RJ):

O apoio dos eleitores de Marcelo Freixo, que concorreu pelo Psol à Prefeitura do Rio de Janeiro, pode não ter sido suficiente para elegê-lo, mas chama a atenção num país em que a maioria das candidaturas depende de recursos públicos e de empresas. Quase 98% dos R$ 1,1 milhão que Freixo arrecadou, segundo sua prestação de contas, foram doados por pessoas físicas: em dinheiro, em transferência eletrônica pela internet e por trabalho voluntário estimado em reais.
Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro (RJ):

Família ainda é fator de peso na hora do voto. Nas eleições municipais deste ano, não foi difícil encontrar candidatos financiados por parentes nem políticos que tentam aproveitar a onda de popularidade dos pais.
Manaus (AM):

Empresas da Zona Franca de Manaus, administrada pela Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), tiveram um papel importante na reeleição do vereador Masami Miki (PSL). Mais da metade do valor doado à campanha de Miki saiu de empresas do Pólo Industrial de Manaus, principal braço da Zona Franca. Miki, 50, foi assessor técnico da Suframa, autarquia ligada ao Ministério do Desenvolvimento, em três diferentes áreas: assuntos empresariais, projetos industriais e agropecuários.
Natal (RN):

Conhecida no país inteiro após um vídeo em que protestava contra a situação precária da educação no Rio Grande do Norte cair na internet, a professora Amanda Gurgel, 31, alcançou um feito raro para o PSTU: elegeu-se vereadora, em Natal, com votação recorde — quase um quinto dos cerca de 169 mil votos nominais.
Belo Horizonte (MG):

Das 25 empresas de construção civil que fizeram doações para o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), 19 deram suas contribuições depois que os votos já haviam sido apurados. O setor foi o principal financiador do político mineiro, reeleito no primeiro turno. As 19 empreiteiras que doaram após a votação investiram R$ 1 milhão, em contraste com os R$ 18 mil das seis que doaram antes das eleições.
Maceió (AL):

A ex-senadora Heloísa Helena foi neste ano, pela segunda vez consecutiva, a candidata mais votada para a Câmara Municipal de Maceió. Com pouco investimento, teve o menor custo por voto na cidade: R$ 2,12. Em comparação, o voto mais caro custou 15 vezes mais.
Goiânia (GO):

Em sua prestação de contas, o líder do PTB na Câmara dos Deputados, Jovair Arantes, declarou ter doado R$ 3,1 milhões do próprio bolso – 83% de seu patrimônio – para sua campanha a prefeito de Goiânia. O que levantou suspeitas das autoridades é o fato de que mais da metade do valor declarado pelo deputado à Justiça Eleitoral corresponde a imóveis e um carro. A Folha apurou que auditores do TRE-GO estão averiguando se há incompatibilidade entre o patrimônio declarado e o montante que Arantes diz ter investido na campanha
São Luís (MA):

Candidatos eleitos por partidos nanicos levaram a maior parte das cadeiras na Câmara Municipal de São Luís (MA) gastando bem menos do que os de legendas médias e grandes. Houve economia tanto nas arrecadações quanto no valor gasto por voto obtido. O segredo, segundo os futuros vereadores, é contar com favores de amigos. São Luís é a capital brasileira com maior percentual de vereadores eleitos por partidos pequenos (58%). Das 31 cadeiras disputadas nas eleições de 2012, 18 ficaram com 10 partidos de pouca expressão nacional. Desses, 14 vereadores gastaram menos de R$ 20 por voto.

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