RIO - Decidido por um jogador que não está entre os personagens principais do time, o título conquistado pelo Botafogo reflete a palavra escolhida pelo técnico Oswaldo de Oliveira para definir a equipe: solidariedade. Um gol iniciado pelo toque de categoria do craque Seedorf, que poderia ter saído dos pés do zagueiro-artilheiro Bolívar, mas a bola esperou pelo chute do lateral-direito Lucas antes de bater nas redes.
— Foi uma pintura, um gol que coroa a vitória do Botafogo na Taça Guanabara — disse o técnico.
Um time solidário, que deu a oportunidade a Lucas de ouvir seu nome cantado pelas arquibancadas no lugar das vaias ouvidas no ano passado.
— Foi um dos gols mais importantes da minha carreira — disse o lateral.
Carinhosamente chamado de Luquinha pelo treinador, o lateral foi bastante elogiado pelo chefe.
— Jogador é ser humano, não é uma peça de automóvel, que você coloca, substitui. Ele oscila, tem problemas familiares, se machuca. Mas ele tem qualidades inegáveis. Depois desse momento de afirmação tem muito a crescer — acredita.
Confusão na festa no campo
Um traço desta solidariedade do grupo está justamente em não ter apenas um jogador fundamental na conquista do primeiro turno. Oswaldo evita cometer injustiças e destaca cada jogador. Porém, admite a importância de Bolívar, que chegou ao time este ano e conseguiu conquistar mais um título na vitoriosa carreira.
— Realmente foi de uma importância muito grande no primeiro turno. Quando ele dominou a bola, eu vi que todos os defensores foram para área e tinha espaço livre para o Lucas. Pensei: “Meu Deus do céu ele vai chutar, mas ele foi preciso”. Isto é coisa de um cara tranquilo, experiente. Já viveu muito esses momentos para escolher a opção correta — afirmou o treinador.
Bolívar não escutou o pensamento do técnico, mas mostrou a mesma visão de jogo do comandante:
— Eu falei que era predestinado. Foi mais gostoso ainda podendo ter contribuído desta forma no jogo (deixou Fellype Gabriel na cara do gol e teve uma chance de cabeça). No gol, foram segundos para decidir. Mas vi que ele estava mais bem posicionado — explicou o zagueiro, que comemorou ao lado do filho Tales, que considera seu pé de coelho.
Quase que o Botafogo não consegue levantar a taça no estádio. Um confusão entre integrantes do clube e funcionários da federação, no corredor que dá acesso ao gramado, por pouco não acabou com a festa dos jogadores. O troféu da Taça Guanabara chegou a ser retirado do campo a pedido do delegado da partida, Marcelo Vianna. Ele alegou que o clube quebrou o protocolo de ter apenas pessoas autorizadas no campo e que algumas forçaram a entrada. Um funcionário do clube chegou a bater em um segurança.
Minutos depois, no entanto, o presidente do clube Maurício Assumpção subiu ao campo com a taça nas mãos e a levou até o palco montado. Mas a cerimônia de premiação não contou com a presença do presidente da Ferj Rubens Lopes.
— Quando os outros clubes ganham aqui, todos entram em campo, vira uma festa. A gente não pode fazer a nossa festa em casa. Colocaram a mão no meu rosto, empurraram um funcionário meu. Mas ninguém bateu em ninguém — defendeu-se o presidente Maurício Assumpção.
Com o troféu nas mãos, os jogadores confraternizaram com a torcida, com quem eles esperam ter feito as pazes para a temporada. O meia Seedorf fez questão de abraçar o treinador e levá-lo até a torcida para que também recebesse os aplausos, depois de tantas vaias.
O técnico Oswaldo de Oliveira acredita que as duas últimas vitórias, sobre dois grandes rivais, devolveram a confiança dos alvinegros no time.
— Se aquela bola do Lucas bate na trave... Claro que o resultado interfere muito no trabalho. O elo de confiança foi solidificado. Acredito que daqui para frente, não digo que teremos tranquilidade, mas muita confiança. A torcida certamente vai acreditar que nós podemos dar um passo além — disse o treinador, que agradeceu à família e aos amigos mais próximos pelo suporte nos momentos mais difíceis.
A comemoração ficou para os jogadores, que nem saíram do estádio para fazer a festa. Na área vip do Engenhão, eles se reuniram mais no clima de confraternização do que numa festa de título. Estão esperando pela conquista mais importante: o Carioca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário