A Brigada Militar abriu sindicância para apurar a falta de registro oficial e possível negligência na noite em que uma viatura da corporação foi chamada durante uma briga entre o menino Bernardo Boldrini, o pai Leandro Boldrini e a madrasta, Graciele Ugulini, na casa da família, em Três Passos, na Região Noroeste do Rio Grande do Sul. A intenção é identificar se houve omissão dos policiais que estiveram presentes no local – e nada relataram em ofício – ou se, de fato, não havia motivo para gerar um boletim de ocorrência.
O corpo de Bernardo foi localizado no dia 14 de abril deste ano enterrado em um matagal na área rural de Frederico Westphalen, a cerca de 80 quilômetros de Três Passos, onde ele morava com a família. O menino estava desaparecido desde 4 de abril. Além do pai e da madrasta, são réus pela morte do menino a amiga de Graciele, Edelvania Wirganovicz, e o irmão dela, Evandro Wirganovicz. Os quatro estão presos e respondem por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.
“Estamos apurando através de uma sindicância, que tem prazo de 20 dias para solução. O procedimento está analisando os detalhes dos fatos para poder contribuir com o processo”, contou o comandante do 7º Batalhão de Polícia Militar, major Diego Munari. “Não há qualquer tipo de ocorrência registrada pela BM referente à briga da família”, acrescentou.A briga da família Boldrini, que agora provoca uma investigação interna na corporação, assustou vizinhos em uma noite de sábado, véspera do Dia dos Pais, em agosto do ano passado. A discussão foi registrada em vídeo pelo casal. O material, obtido pelo G1, mostrava ameaças, ofensas e gritos de socorro do menino. Moradores da região ligaram para o 190 em uma denúncia anônima, e uma viatura foi deslocada até a residência.
De acordo com o major, a Brigada Militar realmente foi até a casa da família depois da denúncia. Segundo ele, a falta de registros sugere que nada foi constatado ou flagrado pelos policiais no local, apesar dos gritos de socorro terem sido ouvidos por vizinhos e da intensa discussão da família ter motivado a ligação ao 190.
O material recuperado no celular de Leandro foi utilizado como nova prova da acusação. Para as testemunhas do processo que investiga a morte de Benardo, o vídeo revela a má conduta do pai e da madrasta. Em um dos vídeos, as imagens captaram gritos de socorro do garoto dentro de casa. Em alguns trechos, a madrasta diz a Bernardo frases como “vai ter o mesmo fim que tua mãe”, “vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro”, “tu não sabe do que eu sou capaz”.
Em dois outros vídeos, obtidos pelo jornal Zero Hora, o menino aparece com uma faca e depois com um facão na mão e ainda chorando dentro de um armário. As imagens, de junho de 2013, mostram o médico provocando o filho. “Isso aqui vai ser mostrado para quem quiser ver. Vamos lá, machão”, afirma Leandro. A reação do menino às gravações demonstra que essa era uma prática do casal. Várias vezes, Bernardo pede que o pai pare de gravar ou apague o vídeo.
Na segunda-feira (8), foi realizada a segunda audiência de instrução do processo criminal contra os acusados no Fórum de Três Passos. No total, sete testemunhas de acusação foram ouvidas. Umaex-secretária do médico afirmou que a madrasta falava em "dar fim" ao menino. Uma ex-babá também relatou que as ofensas a Bernardo por parte dos pai e da madrasta eram diárias, enquanto uma empresária que acolhia Bernardo disse que a família não se interessava pelo menino. Dos quatro acusados, o único réu levado ao fórum foi Edelvania Wirganovicz.
Conforme alegou a família, Bernardo teria sido visto pela última vez às 18h do dia 4 de abril, quando ia dormir na casa de um amigo, que ficava a duas quadras de distância da residência da família. No dia 6 de abril, o pai do menino disse que foi até a casa do amigo, mas foi comunicado que o filho não estava lá e nem havia chegado nos dias anteriores.
No início da tarde do dia 4, a madrasta foi multada por excesso de velocidade. A infração foi registrada na ERS-472, em um trecho entre os municípios de Tenente Portela e Palmitinho. Graciele trafegava a 117 km/h e seguia em direção a Frederico Westphalen. O Comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM) disse que ela estava acompanhada do menino.
O pai registrou o desaparecimento do menino no dia 6, e a polícia começou a investigar o caso. No dia 14 de abril, o corpo do garoto foi localizado. Segundo as investigações da Polícia Civil, Bernardo foi morto com uma superdosagem de um sedativo e depois enterrado em uma cova rasa, na área rural de Frederico Westphalen.
O inquérito apontou que Leandro Boldrini atuou no crime de homicídio e ocultação de cadáver como mentor, juntamente com Graciele. Ainda conforme a polícia, ele também auxiliou na compra do remédio em comprimidos, fornecendo a receita. Leandro e Graciele arquitetaram o plano, assim como a história para que tal crime ficasse impune, e contaram com a colaboração de Edelvania e Evandro, concluiu a investigação.
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