Na última edição deste domingo (07) o programa do Fantástico denunciou alguns municípios do Maranhão por compra de votos dos candidatos em época de eleição. As cidades de Codó e Bom Jesus da Selva foram destaques de investigação.
Município de Codó, no interior do Maranhão. Zito Rolim, candidato do PV à reeleição em 2012, faz campanha de casa em casa. Depois de entrar em uma casa, ele tira a mão do bolso e cumprimenta um eleitor. E se afasta. É quando o homem, contente, estica o que parece ser uma nota de dinheiro.
Em vídeo, mostrado pela reportagem, Zito entra em uma casa abraçado a uma mulher. Os dois vão até o quarto. Ela pega um papel no chão. O candidato segura o papel, olhando para a porta como se estivesse preocupado, coloca dentro dele uma coisa que tirou do bolso. Outra eleitora diz que é comum candidatos distribuírem dinheiro nas campanhas municipais em Codó.
“Eles chegam nas casas, eles pede licença; às vezes chama a gente dentro do quarto para falar sobre o que a gente precisa, aí dão o dinheiro”.
Durante várias filmagens, cabo eleitoral que conta as notas. Depois, se aproxima de uma mulher. E, sem olhar para ela, ele entrega o que, segundo o Ministério Público, é dinheiro. Aí ele vai embora, e a mulher coloca a criança no chão. Em seguida, ela verifica as notas e sai.
Em Bom Jesus das Selvas, interior do Maranhão. A então candidata do PT do B, Cristiane Damião, visita eleitores que invadiram as terras que pertencem à família dela e passaram a viver ali.
“Pois olha só: vocês têm todo o direito de permanecer aqui. Mas eu, a dona da terra, é que realmente autorizo vocês ficarem. Por isso eu preciso da ajuda de vocês, eu preciso do voto de vocês”.
O vídeo foi gravado na casa da família do lavrador Francisco, uma das 2,5 mil que invadiram a propriedade de Cristiane.
“Eu achei que era, sim, comprando o voto da gente, se nós votasse nela, nós tinha como ter a terra”.
“O número de casos que chegam à Justiça Eleitoral infelizmente é ainda muito grande. É algo que se espraia por todo o país. Não é algo exclusivo de alguma região ou mesmo até de classes sociais”, diz o presidente do TSE.
Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, além de dinheiro, os bens e serviços mais oferecidos aos eleitores por candidatos corruptos são: laqueadura, um procedimento de esterilização para mulheres, implante dentário e material de construção. Desde 2012, 166 prefeitos tiveram seus mandatos cassados.
Em Bom Jesus das Selvas, um homem diz que na última eleição foi oferecido todo tipo de vantagem em troca do voto.
“Cesta base, dinheiro. Prometia material pro povo. Quarenta telhas, um metro de areia, porque é para botar o piso na casa. Tá entendendo?”
E uma eleitora afirma que a então candidata Cristiane Damião prometeu um terreno.
“Se eu votasse nela ela me dava o local para mim fazer a minha casa, né?”
Cristiane nega ter comprado votos e diz que o vídeo é uma montagem.
“Isso aí, vídeo é montagem, vídeo pode denegrir imagem, pode fazer muitas coisas”, diz Cristiane Damião, prefeita de Bom Jesus das Selvas.
Cristiane diz também que quer remover as famílias que invadiram o terreno da família dela.
“Se eu estou trocando lotes por terra, como que eu ia entrar na Justiça para reintegrar minha terra? Jamais”, diz a prefeita.
Em Codó, Zito Rolim afirma que jamais comprou votos.
“Em nenhum momento manuseei dinheiro. Eu estava com os santinhos, que são aquelas fotos pequenas, no bolso e entreguei para uma pessoa, como é normal. A gente, à medida que vai fazendo campanha, visitando nas ruas, nas casas onde a gente entra, a gente entrega aquele santinho com o número e tal”, diz Zito Rolim, prefeito de Codó.
No início da reportagem, no vídeo Zito aparece pegando um papel da eleitora e parece colocar algo dentro dele antes de devolver. Faz isso olhando para a porta, como se estivesse preocupado. O prefeito nega ter dado dinheiro à mulher, e diz que o papel era uma receita médica.
“A pessoa me pediu a receita, e eu, entregando a receita de volta, eles entenderam que fosse uma cédula que a gente tivesse passando para o eleitor. Não foi nada disso”, nega o prefeito.
“Os vídeos mostram a entrega de dinheiro a pessoas dentro de casas, durante uma caminhada. Na visão do Ministério Público não há dúvida nenhuma. Na verdade, se conseguiu em Codó uma proeza, que é confirmar algo que todo mundo sabe que acontece mas que é de difícil confirmação”, revela a promotora de Codó Lindaluz Matos Carvalho.
Os dois casos vistos nesta reportagem ainda aguardam decisões da Justiça Eleitoral. Os candidatos foram eleitos e permanecem nos cargos. Sobre o processo contra Cristiane Damião, a presidência do Diretório Estadual do PT do B no Maranhão afirma que não vai emitir juízo de valor e que a Justiça é competente para apurar o caso.
Já o presidente do PV do Maranhão, deputado federal Sarney Filho, diz que o partido confia na Justiça e que, se o prefeito Zito Rolim for condenado, será aberto um processo na comissão de ética do PV.
Para o presidente da Confederação Nacional de Municípios, a compra de votos não é uma prática generalizada nas eleições municipais.
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