Mais de 80% das detentas da Penitenciária Feminina de São Luís são mães; envolvimento com drogas levou a maioria delas à prisão
POR JULLY CAMILO
e OSWALDO VIVIANI
O Dia das Mães, comemorado hoje, é uma data festiva, cheia de surpresas, presentes e sinônimo de família reunida. Porém, para as mães encarceradas na Penitenciária Feminina de São Luís, situada no km 14 da BR-135, a realidade é bem diferente.
Mais de 80% das 150 mulheres encarceradas em São Luís são mães. Para a maioria delas, a separação dos filhos é uma das situações mais dolorosas vivenciadas na prisão. Mas, apesar das dificuldades enfrentadas no presídio, reconquistar a liberdade e recomeçar a vida com dignidade são objetivos que povoam os sonhos de quase todas.
Segundo a supervisora da Penitenciária Feminina, Gisele Léda, quatro internas estão grávidas e duas amamentam seus filhos. O presídio recebe não só presas já condenadas, mas também provisórias.
De acordo com Gisele, o lugar abriga atualmente duas crianças – uma menina de cinco meses e um menino de nove –, mas assim que os dois completarem 1 ano serão entregues a outros responsáveis, já que, após essa idade, não podem permanecer na penitenciária.
'Pesadelo' – Daniele Sousa Serrão, de 21 anos, é uma das detentas grávidas da Penitenciária Feminina. A jovem está presa há três meses e sua gestação – a primeira dela – já está nos sete meses. Ela sabe que espera uma menina e já escolheu o nome: Maria Eduarda.
Daniele contou ao Jornal Pequeno que morava no Jardim Tropical, em São Luís, mas foi presa no município de Chapadinha, em companhia do marido. O casal responde por tráfico de drogas e nenhum dos dois ainda foi sentenciado. 'A prisão é o pior de todos os pesadelos', disse Daniele ao JP. Segundo a jovem, que nunca havia sido presa, tudo é muito novo e difícil dentro do presídio.
'Sei que errei, mas queria pelo menos a minha sentença. Minha maior angústia é minha filha nascer e ter que ficar comigo aqui, numa prisão. Ainda bem que as minhas colegas de cela são gente boa e aqui temos coisas que ajudam as horas a passarem mais rapidamente, como uma televisão. Gosto de ver as novelas da noite e não perco um jogo do Flamengo. Porém, tem momentos que a solidão sempre bate. É difícil segurar a 'onda', pois nessas horas você lembra de todos os amigos que tinha e que hoje sumiram. Graças a Deus, meus pais e uma prima querida não me abandonaram. Sei que para minha mãe o Dia das Mães deste ano vai ser o pior de todos', afirmou Daniele.
Separada dos filhos – Mãe de três filhos – uma menina de 7 anos e dois meninos, de 1 e 2 anos –, Jaqueane Arouche, 25, está presa há quase três meses por tráfico de drogas. Também grávida, sua gestação está no quarto mês.
Para tentar suprir a separação dos filhos, Jaqueane colou várias fotos deles na parede de sua cela. Quase chorando, ela contou ao JP que, com o marido preso há oito anos, o sustento da família – ela morava no Bairro de Fátima – ficou difícil e ela 'caiu no mundo do tráfico'.
'Tentei de tudo, mas nada dava certo. Até que me envolvi com as pessoas erradas, que me apresentaram dinheiro fácil. Esse foi o meu erro. Hoje estou presa e pela primeira vez vou passar o Dia das Mães longe dos meus filhos. O que me conforta é que a minha mãe, que cuida deles, é uma guerreira, e me visita todos os sábados com eles. Assim, posso vê-los e matar um pouco a saudade. A minha filha de 7 anos já entende e sabe por que estou aqui, mas os outros dois não. Espero que um dia eles me perdoem', disse.
Bebês na cadeia – Com a cela toda decorada com fotos da pequena Esther, de apenas cinco meses – uma das duas crianças que vivem na penitenciária –, a mãe da menina, Ângela da Silva, contou ao JP que está presa há um ano e um mês, por estelionato, crime no qual é reincidente.
'Uma tia minha vai cuidar da Esther, se eu ainda estiver presa daqui a sete meses, quando ela completar um ano', disse Ângela.
No caso de Maria Eulenilce Santos Silva, 31, mãe do pequeno Ícaro, de nove meses, este será o segundo Dia das Mães consecutivo que ela passa dentro do presídio. Maria está presa há um ano e nove meses, também por tráfico de drogas.
A interna disse ao JP que deixou com uma de suas irmãs outros três filhos – de 6, 12 e 14 anos. 'Minha irmã faz o que pode, mas não consegue dar conta de tudo. Um dos meus filhos é deficiente, e faz tratamento. Sei que minha irmã não pode levá-lo ao hospital com a frequência necessária. Sinto saudade e pena deles. Queria muito a liberdade e o direito de criar meus filhos. Já perdi tudo o que tinha, meu carro, minha casa. O Dia das Mães vai ser um dia triste para mim'.
Tentativa de abuso – A detenta Olga Rodrigues, 20, natural de Miranda do Norte, grávida de sete meses de um menino, está presa há cinco meses, por tráfico de drogas. Informou que tem outro filho, de 2 anos, e que foi obrigada a deixá-lo com a mãe e com o padrasto. Este já teria tentado abusar sexualmente da jovem desde quando ela tinha 12 anos, segundo afirmou Olga ao JP. 'Meu medo é que ele possa tentar fazer com meu filho o mesmo que queria fazer comigo', disse Olga. 'Caí no mundo das drogas por falta de amor e apoio familiar. Meu marido também foi preso na mesma época. Mas quero uma oportunidade de me recuperar e juntar minha família de novo', afirmou.
Família encarcerada – Janice Silva, de 57 anos, e a filha Cíntia Silva, 23, contaram que foram presas há quase dois meses – com mais três familiares –, sob a acusação de envolvimento com tráfico de drogas. Elas alegam inocência.
Janice afirmou que não tem o que comemorar no Dia das Mães, pois sua família foi 'despedaçada': além da filha Cíntia, o marido de Janice, um filho e o genro (marido de Cíntia) foram presos, em Raposa.
Na cozinha, presas amenizam tristeza do encarceramento
Na cozinha industrial do presídio, aproximadamente 10 mulheres encarceradas trabalham na produção das refeições que alimentam as internas. São 11 horas de trabalho – das 6h às 17h –, com intervalo de duas horas para descanso.
A detenta Rosângela Rodrigues, 39 anos, presa há um ano e três meses por tráfico de drogas e associação para o tráfico, é uma das cozinheiras.
Disse que foi condenada a oito anos, e que encontrou no trabalho uma forma de amenizar os dias de encarceramento. 'Trabalhando, ocupo minha mente. Vou trabalhar o máximo que puder para obter minha liberdade o mais rapidamente possível e recomeçar a vida'.
Rosângela não tem filhos, mas disse saber que o Dia das Mães será triste para sua mãe. 'Esse dia será de muita dor para ela, eu sei, pois não é fácil para nenhuma mãe ver na prisão um ser gerado por ela'.
(JC e OV)
Detentas tiveram dia de visitas extra na sexta
Nos 60 mil metros quadrados da Penitenciária Feminina, há berçário, salas de costura, sala de lazer, lavanderias e cozinha industrial. Também existem áreas de saúde, de convivência, reservatório, torre de observação, celas individuais, celas coletivas e espaço para os funcionários.
As celas coletivas possuem beliches, prateleiras individuais, mesa e lavatório, além de vaso sanitário e pia. Já as individuais têm um solário e estão isoladas das demais celas por paredes e portas de aço.
A supervisora da penitenciária, Gisele Léda, afirmou ao JP que, por conta da proximidade do Dia das Mães, as detentas ficam 'mais sensíveis e emotivas'. Por isso, elas foram presenteadas com uma visita extra, na sexta-feira (11), na qual puderam receber filhos, parentes e participaram de momentos de interação, com apresentações de coral, peça teatral, palestras religiosas, entre outras atividades.
Normalmente, as visitas acontecem aos sábados para as presas provisórias. No domingo, é a vez das já sentenciadas.
'Nosso intuito principal aqui na penitenciária é capacitar as internas para torná-las aptas para o mercado de trabalho, oferecendo os mais diversos cursos, entre eles administração, corte, costura, bordado. Isso sem contar os trabalhos internos, que resultam na diminuição da pena; ou seja, a cada três dias trabalhados elas ganham um dia de pena cumprida', disse Gisele.
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