“(...) Se um doente precisa de uma ambulância ela demora chegar para socorrer, demora para retornar a cidade. Cadê a parcela do dinheiro para o asfalto que nunca chegou à Estrada do Arroz? Queremos uma estrada boa”. Raimundo Canon, morador da Estrada do Arroz.
Por volta das 3h30 da tarde de ontem nossa reportagem recebeu a ligação de uma leitora que trabalha no centro da cidade. A mulher apenas repassava a denúncia feita pelo irmão dela, morador de um dos povoados da Estrada do Arroz, sobre uma caçamba que caiu no Riacho Angical ao passar pela ponte.
“Ele me ligou agorinha pedindo para eu ligar pra vocês, que sempre publicam a situação daquela estrada”, dizia a senhora. Antes mesmo que pensássemos em nos deslocar até o trecho onde aconteceu o acidente, um senhor de cabelos brancos chega à recepção e pede para falar com um dos repórteres.
Ele é Raimundo Conan, o Francês que há 10 anos está em Imperatriz com um grupo de amigos que se dedica às comunidades da Estrada do Arroz. Raimundo, que afirma ser padre, foi logo informando que o sacerdote ficou do lado de lá da ponte quebrada e que veio à sede do Município na pessoa do ‘Irmão Raimundo’, como é conhecido ao longo da estrada.
“Também sou um dos integrantes do Fórum de Defesa da Cidadania e do Desenvolvimento das Comunidades da Estrada do Arroz”, criado com o objetivo de reunir a população dos povoados ligados direta e indiretamente pela estrada que liga Imperatriz à Cidelândia, outro município maranhense, para discutir os principais problemas, como a falta de uma estrada trafegável.
Raimundo informou que a caçamba caiu na armadilha da ponte do Angical por volta de 9h30 da manhã de ontem. “Eu estava a esperar do ônibus vir de Petrolina para Imperatriz, pois tinha consulta marcada com o dentista na parte da tarde. Passou do horário do ônibus chegar, ficamos sabendo que ele nem havia passado para Petrolina ainda, pois uma caçamba caiu na ponte que quebrou”, conta.
Sem pensar duas vezes, Raimundo pegou a câmera digital e caminhou cerca de 2 km com um grupo de pessoas que também foram conferir de perto o drama. Uma das fotos ilustra a matéria e fala mais que todas as linhas que aqui foram escritas. De vários ângulos o ‘Irmão Raimundo’ denuncia o que há muito estava para acontecer.
O caminhão pertence a uma empresa que trabalha no transporte de areia. Ficou inclinado quando a ponte não resistiu o peso da traseira do veículo e quebrou. Ninguém se feriu, mas Raimundo perdeu uma das duas consultas que havia marcado para a tarde de ontem, outras pessoas perderam compromissos no centro da cidade e estudantes ficaram sem ir à escola.
“Temos direito a uma boa saúde, educação e uma boa estrada. Isso não é pedir, é exigir nossos direitos”, declara o cidadão, que para não perder a segunda consulta precisou pegar carona até Cidelândia e dar um jeito de chegar à Imperatriz. Para voltar, hoje pela manhã, já adianta, “vai ser outro problema”.
Para finalizar, Raimundo faz o seguinte comentário: “Aquela é uma região muita rica. A madeira que foi tirada de lá, há 30 anos, foi embora para grandes centros e exterior. Depois chagaram os criadores de gado. São pastos bonitos, rebanhos bonitos e carne bovina de riqueza enorme. Agora tem uma fábrica em construção que vai transformar mais madeira em papel. O quanto vão lucrar? Temos os mesmos direitos. Não temos 1 cm de asfalto”.
Por Hemerson Pinto
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