quinta-feira, 15 de março de 2012

Farmacêuticos não conseguem ler receita quase indecifrável


Visitamos três drogarias para tentar descobrir quais os medicamentos estavam sendo prescritos.
15/03/2012 - Redação

A dosagem incorreta de um medicamento é tão prejudicial quanto a falta dele, daí a grande importância de uma receita que contenha todas as informações necessárias para que o paciente tome de forma correta o remédio. Na contramão da informatização, alguns médicos ainda usam a prescrição manual de receitas, o que muitas vezes dificulta a leitura pelos farmacêuticos e vendedores, em caso de erro na venda, além de trazer grandes prejuízos ao paciente.

De acordo com o Código de Ética Médica, é de total responsabilidade do médico “receitar ou atestar de forma secreta ou ilegível, assim como assinar em branco folhas de receituários, laudos, atestados ou quaisquer outros documentos médicos”. Todavia, não é desta forma que vários profissionais de saúde têm agido ao receitar o medicamento aos pacientes.

Na segunda-feira chegou ao Correio Popular a reclamação de um paciente que recebeu uma receita “ilegível” do clínico geral José Abrantes Sarmento. O médico atende na Unimed todas as tardes. Nenhum farmacêutico ou atendente das farmácias visitadas pelo denunciante conseguiu decifrar que medicamento era solicitado. O denunciante preferiu não revelar sua identidade.

De posse da receita, a reportagem percorreu três drogarias do centro da cidade para tentar descobrir quais os medicamentos estavam sendo prescritos. Em todas as farmácias foi constatada a presença de um farmacêutico/bioquímico, porém, apenas um balconista da segunda farmácia visitada afirmou entender o receituário e identificar o nome dos medicamentos. Nem mesmo a bioquímica da mesma drogaria teve a completa convicção de que os nomes correspondiam ao que ela achava que fossem os remédios.

Farmácia I

A farmacêutica Aline Sousa Andrade comentou sobre os perigos de uma receita com a letra ilegível. “A leitura incorreta da receita por causa do não entendimento da letra do médico pode trazer N fatores. Os farmacêuticos e balconistas ficam expostos a dispensar um medicamento errado. Já para o paciente, o principal envolvido, o risco é tomar o remédio errado e ter maiores complicações de saúde”. Aline afirma que constantemente recebe receitas que são muito difíceis de serem lidas. Ela explica que os clientes, não compreendendo o perigo, às vezes insistem em levar o medicamento mesmo sabendo que não existe a certeza de que o nome de remédio foi decodificado de forma correta. A recomendação da farmacêutica para os atendentes onde trabalha é não vender o remédio sem saber de fato qual seu verdadeiro nome, dosagem e intervalo entre cada dose.

Perguntada se venderia o remédio com a receita apresentada, Aline afirmou que, pela incerteza dos nomes, preferiria pedir que o paciente retornasse ao médico e solicitasse outra receita com uma letra que possa ser compreendida facilmente.

Farmácia II

Maira Pereira Ramos é farmacêutica generalista. Ela trabalha na segunda drogaria visitada pela reportagem. Maira, assim como Aline, afirma que a medida correta é optar por não vender o remédio sem ter certeza se este foi realmente receitado. Sobre a receita apresentada pela reportagem, Maira coloca. “Ela (receita) é ilegível”. 

Sobre as informações básicas de uma receita médica, a farmacêutica aponta que deve conter informações simples, como o nome do paciente, o nome do medicamento, a dosagem, a forma de uso e tempo de tratamento, além do carimbo do médico onde conste seu nome completo e o número do registro no Conselho Regional de Medicina (CRM). 

Farmácia III

A farmacêutica-bioquímica Mileide da Costa Silva, da terceira farmácia, indica um meio alternativo para tentar decifrar nomes que não foram compreendidos pelos atendentes. “Faz-se um pesquisa com o paciente sobre os sintomas da doença e, por eliminação de possibilidades, tenta-se ajudar esse paciente, caso contrário o paciente é aconselhado a retornar no médico para buscar outra receita com a letra legível”, disse. 

Mileide ressalta que esta medida, de pesquisa com o paciente, é tomada apenas em caso de dúvida sobre o nome do remédio. “Quando não temos a mínima ideia do que diz a receita não vendemos o medicamento e pedimos que o paciente volte ao local onde foi atendido para solicitar outra receita”.

As três farmacêuticas responderam de forma unanime sobre as condições de venda de remédio com a receita apresentada pela reportagem. Para elas, as letras da receita não são passiveis de determinar quais medicamentos estão prescritos, a dosagem e como o remédio deve ser tomado. As três aconselhariam o retorno ao consultório para requisitar outra receita.

Justificativa

O doutor José Abrantes recebeu a reportagem, mas não quis gravar entrevista. Ele alegou que não existem erros na receita e que a letra é completamente passível de ser lida e entendida, porém admitiu que a pressa e a grande demanda da Unimed podem ter gerado o equívoco. O médico admitiu que atende, em média, 30 pacientes no intervalo entre 13 e 19 horas e que casos de receitas não entendidas são raros de acontecer em suas prescrições. 

O sistema informatizado do plano de saúde foi criticado pelo médico, que afirmou que não apenas ele, mas outros profissionais da Unimed preferem prescrever manualmente a usar o sistema, que requer muito tempo. Tempo que eles (médicos) precisam dedicar à enorme demanda de pacientes do plano, segundo o clínico.

Outra contestação de Abrantes foi à grande quantidade de farmacêuticos recém-formados no mercado imperatrizense. Segundo ele, a falta de experiência dos novos profissionais não ajudou na decodificação da receita. Ele acredita que qualquer balconista ou farmacêutico de média idade profissional é capaz de compreender a receita que foi motivo da denúncia.

O diretor administrativo da Unimed na cidade, Joaquim Fonseca Junior, garantiu que, em casos assim, o plano de saúde assegura que uma nova receita seja fornecida sem ônus algum para o paciente.

Por Ronie Petterson

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