Folha de S.Paulo
Irregularidades causam reflexos em hospitais sucateados do Maranhão, em que pacientes esperam horas por atendimento
Cidade do interior do Estado ‘atendeu’ em um ano mais pacientes com glaucoma do que sua própria população
Há dois anos, uma auditoria federal descobriu um desvio de R$ 6,9 milhões em verbas do SUS em Rosário (a 70 km de São Luís) no interior maranhense.
Entre as irregularidades: incompatibilidade entre os serviços prestados e os recursos repassados pelo Ministério da Saúde, despesas sem comprovação e unidades de saúde que deveriam ter recebido a verba em condições precárias e sem equipamentos.
Na última quarta, no único hospital público da cidade, uma fila com cerca de 20 mulheres grávidas esperava num corredor lotado. A maioria havia chegado às 6h da manhã, em jejum. Cinco horas depois, porém, não havia previsão de atendimento.
“E ainda por cima estou sentindo dor”, disse a pescadora Maria Viana, 30, sete meses de gravidez.
O hospital –também chamado de Unidade Mista de Rosário– chegou a ser interditado judicialmente por problemas na estrutura, segundo o Ministério Público. O cenário é de abandono, com piso sujo, quartos e laboratórios completamente vazios.
O centro cirúrgico, que recebia pacientes de outras cidades, também está fechado.
A técnica de enfermagem Ivanilse Martins, 34, diz ter ficado surpresa com a presença da reportagem. “Aqui, qualquer coisa mais grave, tem que ir até São Luís.”
AGENDA APERTADA
Para conseguir um consulta com o oftalmologista no hospital municipal Pedro Vera Cruz Bezerra, em Miranda do Norte (a 119 km de São Luís), no Maranhão, é preciso encontrar espaço na agenda do médico – que só atende duas vezes ao mês.
Essa realidade contrasta com os números encontrados por auditoria local em 2011.
O levantamento mostrou que em um ano, o hospital chegou a atender 27,9 mil pessoas para tratamento de glaucoma –número superior a toda a população da cidade. É como se todas as crianças, adultos e idosos do local precisassem de atendimento para o mesmo problema.
A Folha tentou falar com a secretária da Saúde e com o prefeito Júnior Lourenço, mas, segundo funcionários, eles moram em São Luís (a 138 km da cidade) e só aparecem na cidade duas vezes por semana.
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