POR OSWALDO VIVIANI
A revelação, em matéria publicada na Folha de S. Paulo de sábado (3), de que
os 45 deputados estaduais maranhenses são os que recebem mais salários no país –
18 por ano – repercutiu na noite de ontem (6) no Jornal da Globo. O
Jornal Pequeno reproduziu a matéria da Folha em sua edição de
domingo (4). Após a publicação da reportagem da Folha, a Mesa Diretora da AL
propôs o corte de 3 salários dos parlamentares – que ainda assim ganhariam 15
salários mensais.
Num protesto contra a situação, o site da Assembleia Legislativa do Maranhão
foi atacado por hackers (“piratas” da internet), ontem. Quem acessou a página
num certo período da manhã e da noite, viu apenas uma mensagem – “Sorry! In
charge” (“Desculpe. Carregando”) – e escutou um rap, em cuja letra os deputados
são chamados de “canalhas”, “ladrões” e “vagabundos”. A invasão foi reivindicada
pelo grupo @packetxgroup.
Graça Paz e Tatá Milhomem: contra o
corte dos salários dos deputados
Na tarde de ontem, a diretora de Comunicação da AL, Dulce Britto, divulgou
nota na qual afirmou que “o problema foi imediatamente identificado pela equipe
técnica do setor de Tecnologia e Informática da Casa” e que providências estavam
sendo adotadas para solucioná-lo. Informou, ainda, que foi registrado Boletim de
Ocorrência (BO) na Polícia Civil.
Veja a seguir a íntegra da reportagem veiculada na TV Globo, de autoria do
repórter Sidney Pereira (TV Mirante), e o comentário de Arnaldo Jabor sobre o
caso:
No Maranhão, a Assembleia Legislativa quer diminuir de 18 para 15 os
salários recebidos pelos deputados. Os parlamentares lamentam a proposta de
corte.
Desde 2006, os 42 deputados estaduais do Maranhão recebem o equivalente a
18 salários por ano. “O que nós precisamos não é baixar o salário de quem ganha
mais, mas é elevar o salário de quem ganha menos”, diz o deputado José Carlos
(PT).
Os deputados maranhenses recebem 12 salários de R$ 20 mil mais o 13º. Em
fevereiro e em dezembro, existe ainda uma ajuda de custo equivalente a cinco
salários extras. No fim do ano, cada deputado custa ao estado mais de R$ 360
mil.
O corte nos benefícios foi proposto pela Mesa Diretora da Assembleia
Legislativa, e ainda vai depender da aprovação, nas comissões, antes de ser
votado em plenário. Mesmo que a mudança seja aprovada, os deputados vão
continuar recebendo uma ajuda de custo em torno de R$ 40 mil por ano. Eles
deixariam de receber o equivalente a 18 salários por ano, mas ficariam com 15
salários.
Além dos salários, os deputados têm direito à verba de exercício
parlamentar, de gabinete e ao auxílio-moradia. Deputados de oposição e governo
até concordam com os cortes, mas lamentam. “Nós deputados gastamos muito. Nós
temos que viajar bastante, nós temos que ajudar as pessoas”, fala a deputada
Graça Paz (PDT).
“Se você chegar e for na conta bancária de quase todos os deputados,
quando chega no dia 15, ele já não têm mais dinheiro porque o deputado não
deixa, de alguma maneira, de ser uma instituição de caridade”, declara o
deputado Carlos Milhomem (DEM).
Um motivo cínico, outro sincero
ARNALDO JABOR*
Essa providência dos deputados do Maranhão [de cortar 3 dos 18 salários que
recebem] tem duas motivações. A primeira é uma tentativa de parecerem sensíveis
à moralização dos atos políticos. Um deles disse: “É uma questão de consciência,
diante desse quadro que se impõe”. Que quadro? Trata-se da enxurrada de
escândalos e faxinas que o país tem visto. Muitos deputados maranhenses devem
ter pensado; “Poxa! Boa idéia! Vamos mostrar consciência social. Dezoito
salários é muito, dá na vista. A gente fica só com 15, mas com verbas sem
comprovação, auxílio-moradia, etc. Depois, a gente dá um jeito de incluir novos
extras, de grão em grão, na moita”. Esta seria a motivação cínica.
A outra motivação é sincera. Quando uma deputada do Maranhão diz: “Viajamos
muito, temos de ajudar as pessoas”, ou quando um outro fala que o deputado é uma
instituição de caridade, eles pensam assim mesmo. Não lhes passa pela cabeça que
eles sejam empregados do povo. Suas excelências se acham uma aristocracia acima
de todos. E acham que merecem. “Eu faço autocaridade, ajudo a mim mesmo”.
Enquanto isso, ouve-se a gritaria, no país todo, de prefeitos e governadores
contra o novo piso salarial dos professores. “Eles [os professores] não podem
ganhar R$ 1.400 por mês porque isso explodiria as contas do país”.
(*) Cineasta, em comentário no Jornal da Globo
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