quinta-feira, 26 de setembro de 2013

'É tudo mentira', diz ex-mulher de executivo sobre acusação de irmão

A ré Giselma Carmen Campos negou nesta quinta-feira (26) a acusação feita pelo irmão, Kairon Valter Alves, de que seria a mandante da morte do ex-marido, o diretor-executivo da Friboi Humberto de Campos Magalhães, ocorrida em 2008. "É tudo mentira", disse durante o julgamento do caso no Fórum Criminal da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo.
Os dois são réus no júri que começou nesta terça-feira (24). Kairon Alves confirmou na tarde desta quinta que a irmã mandou assassinar o ex-marido. “Depois de muita insistência, ela começou a falar que ele [Humberto] a estava ameaçando. Como fazia muitos anos que a gente não se via, bateu um sentimento e eu disse que ia ajudá-la”, afirmou Kairon durante interrogatório no júri. “Eu culpo a Giselma porque me senti manipulado por ela. Estou muito arrependido, tenho vergonha porque a vida só Deus pode tirar.”
No fim do interrogatório de Giselma, a juíza Eliana Cassales Tosi de Mello colocou os dois irmãos frente a frente. Ela perguntou se Kairon mantinha a versão de que a irmã era mandante do assassinato. Ele disse que sim. A ex-mulher do executivo voltou a repetir que era "mentira".
Eu culpo a Giselma porque me senti manipulado por ela. Estou muito arrependido, tenho vergonha porque a vida só Deus pode tirar"
Kairon Valter Alves
Giselma disse, durante o interrogatório, que Humberto e Kairon "se conheciam" e "tinham uns negócios", sem especificar quais eram eles. Ela contou que o casal se separou em abril de 2008, mas continuava saindo com o ex-marido, mesmo sabendo que o executivo mantinha relacionamento com duas mulheres. Segundo a versão da ré, os problemas com Humberto ocorreram quando ela arrumou um namorado. Ela diz que o executivo começou a atrasar a pensão.
Segundo Giselma, durante todo o período de namoro e casamento, Humberto saía com outra mulheres. "A gente conversava, ele dizia que me amava e queria mudar", afirmou. Em relação ao filho Carlos Eduardo Magalhães, que testemunhou contra ela no julgamento, a ré disse que "ama muito" o jovem, mas que os dois estão tendo problemas.
Ela alegou que o depoimento do estudante "tem muita coisa que não é verdade". Sobre ter pedido que o filho mais novo não encontrasse o pai na noite do crime - eles tinham marcado um jantar -, Giselma afirmou que Carlos Eduardo chegou em casa gripado e a pediu para comprar um remédio, por isso sugeriu que ele não fosse ao encontro com o executivo.
Questionado qual seria o motivo de Kairon a incriminar pelo assassinato, Giselma disse que o irmão havia pedido R$ 15 mil a ela para uma cirurgia de um filho, mas ela não tinha o dinheiro naquele momento para dar. Por isso, acredita que o irmão ficou com raiva dela.
Ela insistiu para o fato de que não tinha motivos para matar o marido. "Eu tinha pensão, 50% dos bens seriam meus, estava montando a minha fábrica com uma boa previsão de lucro. Com a morte dele, não tenho mais a pensão, nem os bens e nem o dinheiro na hora que eu quero", declarou.

Segundo o promotor, a possibilidade de uma fuga por parte da ré "é iminente". "Ela não mora no distrito e está com dinheiro", afirmou.
Ao final deste terceiro dia de julgamento, o promotor José Carlos Consenzo adiantou que irá pedir a prisão de Giselma em caso de condenação. "Apesar de estar em liberdade em razão de uma liminar do Supremo (Tribunal Federal), a minha interpretação é a de que não há alcance (para a manutenção da liberdade da ré). Ela não tem domicílio no distrito onde ocorre o julgamento. Ela disse para o filho dela que se fosse condenada não ficaria um dia na cadeia e fez ameaças a testemunhas", justificou Consenzo.
Já para Mauro Nacif, advogado de defesa de Giselma, Kairon mentiu no júri ao disser que foi manipulado pela cliente dele e ainda acredita na absolvição dela. "Existe uma norma: na dúvida, decida-se a favor do réu. Eu continuo insistindo que o delegado nunca pegou um áudio dela e ela nunca confessou. Por que ela está solta e todos os demais estão presos?", indagou.
Interrogatório do irmão
Kairon cumpriu uma pena de 18 anos por tráfico de drogas no Maranhão. Ele contou que, pouco depois de deixar a prisão, a irmã o procurou em São Luís. “Ela queria alguma forma de poder matá-lo”, disse o réu. O irmão contou que tentou fazer Giselma desistir da ideia e só topou por causa do argumento de que Humberto estaria ameaçando a ex-mulher.

O réu descreveu que, depois de chegar a São Paulo, teve contato diariamente com a irmã. Ele recebeu R$ 1 mil para a viagem até a capital paulista e mais R$ 2 mil para se manter na cidade. “Eu falei para ela que não queria nada [dinheiro]. Ela que escolheu a data do crime porque seria a melhor oportunidade de matar o marido."
Ele disse que a irmã entregou o celular de Carlos Eduardo, filho do casal. “Ela pegou o celular do filho, me entregou e disse que era a única forma de atrair o marido e que, se fosse de outro telefone, ele não atenderia”, descreveu. O telefone foi entregue a um dos dois homens contratados para a execução, segundo Kairon. Ele ligou para Humberto e disse que o filho estava drogado, caído na Rua Alfenas, na Vila Leopoldina.
O irmão contou que ficou em um bar perto da estação de trem do bairro à espera dos matadores. Depois, foi até o condomínio onde Giselma morava para pegar o dinheiro que entregaria aos homens. No dia seguinte ao crime, Kairon voltou ao Maranhão.
Com relação à atual mulher do executivo, a veterinária Adriana Ferreira Domingos, o irmão disse que Giselma “tinha raiva dela”, mas não chegou a dizer que queria matá-la, apesar de ter “dado a entender”.
Ele se declarou arrependido pela participação no crime. “Me arrependi. Vi a reportagem na TV e só falavam bem dele. Fiquei com muita vergonha do que tinha feito”, disse. Questionado pela juíza, ele disse que gostaria de pedir desculpas à família de Humberto. “Essa dor nunca cicatriza. Se fosse comigo, da mesma forma, iria querer Justiça”, disse. A mãe do executivo se emocionou na plateia e começou a chorar com as declarações do réu.
Mapa caso Friboi (Foto: Arte/G1)
Cronologia caso Friboi - 24/09 (Foto: Arte/G1)
Mãos atadas
Antes do interrogatório de Kairon, o advogado Ademar Gomes, que defende a acusada, disse que a defesa da ré estava "de mãos atadas". Segundo Gomes, Kairon decidiu manter a confissão, já feita na época da prisão, de que a irmã mandou matar. "Por isso, a defesa de Giselma fica realmente de mãos atadas. Até agora, segundo Giselma, ela não tinha participação como mandante do crime”, disse Ademar Gomes.

A estratégia dos defensores era alegar que o vídeo com a confissão de Kairon, gravado na época da prisão dele, havia sido obtido sob tortura. Gomes diz que uma eventual confissão de Giselma pode servir como atenuante da pena. “Sim, se ela entender que tem culpa e confessar, é realmente um atenuante. Se ela não confessar, a nossa tese de Giselma vai ser pela negativa da autoria”, disse. “Eu sou defensor, eu vou continuar até o fim dizendo para ela: as suas provas, as suas possibilidades de ser absolvidas são nulas”, disse.
Segundo dia: irmãos falam 
Na quarta-feira (15), segundo dia de julgamento, os destaques foram para os depoimentos dos irmãos Carlos Eduardo Magalhães, de 22 anos, e Marcus Vinícius Campos de Magalhães, filhos da ré Giselma e da vítima Humberto.

Como testemunha de defesa, o estudante de direito Marcus Vinícius Campos de Magalhães afirmou acreditar na inocência da mãe. Ele disse que ela não tinha motivos para matar o pai. Entretanto, o advogado de defesa, Ademar Gomes, criticou a desenvoltura do jovem no júri.
"Ele estava tenso, nervoso, travou por completo. Não posso aceitar isso de um estudante de direito. Ele prejudicou muito a defesa. O filho não soube defender a mãe", afirmou Gomes.
À tarde, o estudante de administração Carlos Eduardo Magalhães, de 22 anos, disse, por sua vez, que a mãe Giselma Carmen Campos perseguia o pai.  “Ela vivia perseguindo meu pai, ligava para saber o horário de entrada e de saída da empresa, ligava para os seguranças para saber se ele estava acompanhado de alguém”, afirmou durante os questionamentos da promotoria.
Carlos Eduardo afirmou que a mãe nunca negou o crime, apesar de ressaltar que eles não falavam sobre o caso. “Em nenhum momento ela tentou se defender do crime, dizendo que não mandou executar meu pai."
A ré estava na sala durante o depoimento de Carlos Eduardo. Ela manteve a cabeça baixa, escrevendo em folhas de papel. Giselma não esboçou reação durante as respostas do filho ao promotor do caso. O jovem chamou a mãe pelo nome durante todo o tempo.

Questionado pelo promotor José Carlos Consenzo sobre o motivo de se referir a mãe como Giselma, ele respondeu que sempre a tratou assim. “Eu não considero mãe uma pessoa que tem coragem de fazer comigo o que muitas pessoas não fariam”, justificou.

Primeiro dia: mulher e delegado
No primeiro dia, três testemunhas de acusação foram ouvidas pelo júri. A veterinária Adriana Ferreira Domingos, que vivia com a vítima na época do assassinato, foi a terceira e última a depor. Ela relatou as ameaças da ex-mulher da vítima, Giselma Carmen Campos.

“Ela ligava no meu celular e falava um monte de coisas, xingava, dizia um monte de barbaridades, me ameaçava, ligou inclusive no meu trabalho. Falou que eu não ficaria com ele e que faria o possível para que isso acontecesse”, afirmou.
A veterinária contou aos jurados que os dois iniciaram o relacionamento em dezembro de 2007, quando Magalhães já estava separado da mulher, e passaram a morar juntos em São Paulo em fevereiro de 2008. “Quero ver na cadeia quem fez isso com ele. Eu não tenho ódio nenhum dela. É uma coitada. Mandou matar o pai dos filhos dela”, afirmou.
Antes dela, prestou depoimento o delegado Rodolpho Chiarelli Júnior, que investigou o assassinato. Ele disse não ter dúvidas que Giselma planejou o crime. “Eu afirmo e reafirmo que ela é a mentora intelectual desse crime e é uma afronta para mim ela estar solta”, afirmou o policial, que trabalhava no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

O crime
Segundo a polícia e a promotoria, Giselma passou a planejar o assassinato de Humberto depois da separação informal do casal. Apesar de estarem casados judicialmente, eles estavam separados na época do crime, em 2008.

Giselma procurou o irmão Kairo Alves, no Maranhão, que havia saído da prisão, onde passou 18 anos condenado por tráfico de drogas. Segundo a polícia, Kairo veio a São Paulo e contratou dois pistoleiros no Centro de São Paulo. A investigação mostrou que Giselma pagou ao irmão e aos pistoleiros cerca de R$ 30 mil.
No dia da morte, um dos assassinos utilizou o celular do filho mais velho de Humberto, entregue por Giselma, e telefonou para o executivo dizendo que o jovem estava passando mal, no meio da rua. Humberto saiu de casa apressado e foi à rua indicada procurando o filho de casa em casa. Ao voltar para o carro, um motoqueiro se aproximou e depois de uma rápida discussão disparou dois tiros que mataram Humberto.

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