EXCLUSIVO
Mãe de Roseane e Camila Ribeiro, ambas de Amarante, contou ao JP que não sabia que elas integravam uma seita que promovia orgias numa fazenda com mulheres escravizadas
Grupo de sectários liderado pelo espanhol Ignacio 'Nacho' González – que se dizia o 'Cristo reencarnado' – prometia na internet desde curar Aids e câncer até duplicar o tamanho do pênis
POR OSWALDO VIVIANI
A comerciante de Amarante do Maranhão Maria Rosilene Ribeiro Alves, de 47 anos, mãe de Roseane Ribeiro Alves, 28, e Camila Ribeiro Alves González, 19 – ambas presas numa operação policial, no México, em 25 de janeiro – disse, em entrevista ao Jornal Pequeno, que não sabia sobre o envolvimento de suas filhas com uma seita, denominada 'Defensores de Cristo', que promovia orgias numa fazenda em Nuevo Laredo (fronteira com o Texas, EUA) e dava golpes na internet, prometendo fazer milionários da noite para o dia, curar doenças graves e até duplicar o tamanho do pênis, entre outros 'milagres'. De acordo com os órgãos investigativos mexicanos, a seita mantinha na fazenda 'escravas sexuais', mulheres que eram obrigadas a fazer sexo com os líderes dos sectários – o que incluía relações lésbicas.
'Minha filha Roseane conheceu o 'Nacho' [Ignacio González de Arriba, espanhol, líder máximo dos 'Defensores', que também foi preso] quando ela morava na Espanha, não me lembro a época muito bem. Sei que ela morou uns quatro anos na Espanha, trabalhava lá, não sei dizer o trabalho. Depois, ela e o 'Nacho vieram pro Maranhão, viveram aqui uns três anos, 2008, 2009 e 2010, entre Amarante e Imperatriz. O filho deles, o Gabriel [hoje com pouco mais de 4 anos], nasceu em Imperatriz. Depois, no fim de 2010, a Roseane vendeu quase tudo o que tinha adquirido em Amarante desde quando estava na Espanha – gado, terrenos, casa – e viajou com o 'Nacho' sem me dizer para onde ia nem o que ia fazer', disse Maria Rosilene.
Segundo a comerciante, Ignacio viajou antes, e Roseane, poucos dias depois, levando a irmã, Camila, na época ainda menor de idade – 17 anos –, que o espanhol adotou, dando a ela seu sobrenome (González). O verdadeiro pai de Camila nunca a reconheceu como filha, disse ao JP Maria Rosilene.
A comerciante afirmou ainda que quando viajou, Camila já mantinha um relacionamento com Tito Shoucri Mohamed El Mernissi Ahdel-lah – um colombiano, apesar do extenso nome de origem árabe – também integrante da seita 'Defensores de Cristo', que igualmente foi preso em 25 de janeiro. Camila teve um filho com Tito, Micael, que atualmente tem um ano (nasceu no México).
Mesmo confrontada com imagens na internet que mostram suas filhas como adeptas de um grupo que considera a promiscuidade sexual como 'agradável aos olhos de Deus' – como diz um site dos 'Defensores de Cristo', em que Roseane aparece numa foto erótica, abraçada com outra mulher –, a comerciante Maria Rosilene afirmou ao JP acreditar na inocência das filhas. 'Tenho certeza de que elas não fizeram nada de errado. A Roseane é uma boa menina. Sempre me ajudou. Está grávida de sete meses e cuida do filho dela e ainda de um casal de filhos do 'Nacho'. E a Camila é só uma criança. Coitadinha, ainda está amamentando. Não pode ficar presa', disse Maria Rosilene.
A assessora jurídica da Prefeitura de Amarante, Maiara Nascimento – que está ajudando a comerciante Maria Rosilene Alves a obter informações sobre as duas filhas presas no México – disse ao JP que foi informada pela embaixada mexicana em Brasília que Roseane e Camila devem ser libertadas e deportadas para o Brasil em cerca de 15 dias, pois são acusadas apenas de imigração ilegal.
As maranhenses estão presas na ala feminina da Penitenciária de Matamoros, no estado de Tumaulipas (mesmo em que viviam). Não há informações sobre a situação dos filhos de Roseane e Camila. A lei mexicana não permite que filhos de presos fiquem no cárcere com os pais.
A operação policial mexicana do dia 25 de janeiro, na fazenda de Nuevo Laredo, prendeu, além das duas irmãs maranhenses, outras 22 pessoas: seis espanhóis, dois bolivianos, dois venezuelanos; um argentino, um equatoriano e 10 mexicanos. Foi realizada por agentes do Instituto Nacional de Migração (INM) e da Procuradoria Geral da República (PGR). Todos foram levados para a Penitenciária de Matamoros.
OS PRINCIPAIS LÍDERES DA SEITA 'DEFENSORES DE CRISTO'
'Tive de comer visceras cruas de animais e participar de orgias', conta ex-sectária
Ressuscitar a si mesmo, ficar rico da noite para o dia, curar câncer e Aids, atravessar paredes, duplicar o tamanho do pênis, fazer uma mulher ter até 20 orgasmos numa relação sexual, matar uma pessoa apenas com o olhar – esses são apenas alguns dos 343 'milagres' que eram prometidos na internet por Ignacio González de Arriba, o 'Nacho', e seus seguidores da seita 'Defensores de Cristo'. Por meio desse estelionato virtual, os sectários conseguiram reunir mais de 10 mil seguidores em cerca de 80 países. Os órgãos investigativos do México ainda não calcularam o valor achacado pela seita dos seguidores, em troca dos 'milagres'.
Ao chegar ao México, há pouco mais de dois anos, em companhia das maranhenses Roseane Ribeiro Alves e Camila Ribeiro Alves González e do colombiano Tito Shoucri Mohamed, Ignacio primeiramente instalou a seita 'Defensores de Cristo' em Torreón (estado de Coahuila). Meses depois, o grupo – já com a presença do venezuelano José Losanger Arenas Segóvia – mudou-se para uma fazenda no estado vizinho de Tamaulipas, cidade de Nuevo Laredo.
Ambas as regiões são controladas pelo cartel de drogas Zeta – conhecido por suas ações extremamente violentas. As autoridades mexicanas – que prenderam 24 pessoas ligadas aos 'Defensores' em 25 de janeiro – investigam uma eventual ligação entre a seita e os narcotraficantes.
Para impressionar seus seguidores, Ignacio González – nascido em Gijón, norte da Espanha – se proclamava o 'Jesus Cristo reencarnado' e se autodenominava 'Maestro Fênix', pois garantia ter morrido, após um ataque cardíaco, e depois ressuscitado.
Segundo contaram ex-integrantes femininas da 'Defensores de Cristo' à Rede Mexicana de Apoio às Vítimas de Seitas, González tratava as mulheres da seita como 'escravas sexuais'. Gostava de ver orgias entre elas e estimulava a poligamia entre os membros masculinos da seita. As mulheres tinham de ser bissexuais.
González – relataram as ex-adeptas – lhes dizia que necessitava fazer sexo com três mulheres por dia, pois isso 'fortalecia seu poder mágico', razão pela qual pedia a suas seguidoras ter relações com ele, ou que lhe conseguissem prostitutas.
'Papai Deus me disse que promovamos a poligamia como algo bendito aos olhos dele, e a riqueza econômica como algo importante', afirmava 'Nacho' González, segundo as ex-'Defensoras'.
O próprio Ignacio estabeleceu um relacionamento conjugal com duas mulheres – a brasileira do Maranhão Roseane Ribeiro Alves e a mexicana Ana Paulina D'Avila Carrillo.
Segundo disse ao JP, Maria Rosilene Alves, mãe de Roseane, Ana Paulina lhe telefona frequentemente, pedindo com insistência que a comerciante não dê entrevistas à imprensa, 'para não complicar a situação de Roseane e Ignacio no México'.
Diferentemente do que grande parte das pessoas pensa, o perfil das vítimas do 'Mestre Fênix' não é apenas de pessoas ingênuas, crédulas ou vulneráveis psicologicamente. Uma dessas vítimas é a jornalista Blanca Castro, que já foi porta-voz do governo de Tamaulipas, e que até entrar na seita era dona de inquestionável reputação profissional.
Blanca relatou à Rede Mexicana de Apoio às Vítimas de Seitas: 'Quando dei por mim, estava sendo obrigada pelos sectários a comer vísceras cruas de animais, a acompanhar seu marido a prostíbulos e a participar de orgias'.
'Também fui encarcerada em minha própria casa. Me deixaram sem comer, me ameaçaram e humilharam. Meu filho menor de idade foi coagido a ver vídeos pornográficos', contou Blanca.
O 'Mestre Fênix' Ignacio González de Arriba – preso em Matamoros com outros líderes da 'Defensores de Cristo' – foi acusado formalmente pela Justiça Federal mexicana por: lavagem de dinheiro, trabalho escravo, abuso sexual contra crianças e mulheres, formação de quadrilha, exercício ilegal da medicina e estelionato.
(Oswaldo Viviani, com portais)
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