segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Moradores da 4ª maior favela do Brasil carecem de serviços públicos de qualidade

COROADINHO

Comunidade sofre com a falta de saneamento básico, moradia adequada, energia elétrica regular, água e infraestrutura

POR JULLY CAMILO

Segundo levantamento divulgado na quarta-feira (21), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base nas informações do Censo Demográfico de 2010, cerca de 11.425.644 milhões de pessoas vivem em aglomerados subnormais – favelas, invasões e comunidades com, no mínimo, 51 domicílios. A maior característica dessas ocupações é a falta ou a inadequação de serviços públicos de qualidade. No Maranhão, o Bairro do Coroadinho foi classificado como a 4ª maior favela do Brasil, com 53.945 mil moradores. A falta de saneamento básico, moradia adequada, energia elétrica regular, água e infraestrutura são apenas alguns dos muitos problemas que a população residente nestas condições enfrenta.
No final da Rua da Felicidade, no Coradinho, é fácil visualizar o cenário de pobreza e miséria vivida por, no mínimo, seis famílias que no meio de tantas casas de alvenaria ainda precisam viver sobre palafitas. O morador Júlio Serra, de 25 anos, contou que reside há um ano no local junto com sua mulher. Ele disse que a casa, só de um cômodo, situada sobre águas fétidas que abrigam animais e muita sujeira, foi o único local que encontrou para viver. 'Minha mulher trabalha como vendedora em uma frutaria, infelizmente fui despedido faz uma semana de um canteiro de obras da construção civil, e agora estou sobrevivendo de 'bicos' como pedreiro. Minha mulher tem quatro filhos do antigo relacionamento, mas como nosso barraco só possui um cômodo ela deixou os meninos com a avó e repassou também o beneficio do Bolsa Família para ela cuidar deles', explicou.
O morador revelou que as palafitas possuem água encanada puxada dos canos existentes na rua e a energia elétrica é fornecida por meio de 'gambiarras'. Júlio Serra contou que as necessidades fisiológicas dos moradores são feitas em sacos plásticos e jogados sob as palafitas. Ele pontuou ainda que a renda mensal do casal não chega a um salário mínimo. 'Improvisei um banheiro apenas para o banho porque de resto não dá para fazer mais nada, o jeito é fazermos as necessidades em sacolas e jogarmos no mato ou nessas águas podres. A TV, geladeira, o fogão velho, o som, o sofá e a cama que tenho foram comprados com muito sacrifício e outros foram doados, afinal nunca fui beneficiado por nenhum programa social do Estado ou Município. Vivemos sobre cobras, ratos, insetos, caramujos e até jacarés. As pessoas por aqui só vivem doentes', disse Serra.
Na Rua da Alegria, apenas o nome simboliza felicidade. As cinco famílias que residem neste local moram em residências de taipa cobertas por telhas de amianto – estilo Brasilit. Há 10 anos, a dona de casa Luzia Amélia de Carvalho, 41, mora com o marido no local, em uma casa e apenas um compartimento. Ela relatou que atualmente desempregada o companheiro é o único responsável pelo sustento da família. 'Tive cinco filhos, mas apenas dois estão vivos, porém não residem mais comigo. Nossa renda mensal é de aproximadamente R$ 200 já incluído os R$ 60 do Bolsa Família. Nossa água e energia são por meio de 'gambiarras', não temos saneamento básico, nem coleta de lixo, muito menos asfalto na rua. Pago R$ 30 de aluguel, a cama, TV, frigobar velho, o fogão e o ventilador ganhei da minha família. No meu barraco não tem banheiro e todos os dias tenho que conviver com ratos, insetos e sintomas como de doenças como náuseas, febre e dor de cabeça', declarou.
Só pôde criar um filho – A dona de casa Maria Vitória Araújo, 29, moradora do bairro há mais de 10 anos, contou que é mãe de seis filhos, mas em decorrência das condições de pobreza e miséria em que vive só pôde ficar com o filho de quatro anos. Ela informou que precisou deixar os outros filhos com os tios e a mãe, uma vez que sobrevive apenas com R$ 166 do Bolsa Família, em uma casa de taipa de apenas um cômodo. 'Tenho apenas um fogão, uma cama e uma geladeira que foram doados pelas pessoas da Igreja Evangélica Betel, da qual faço parte. Nem sempre tenho o que comer, mas graças a Deus conto com a ajuda dos meus pais e dos amigos. No inverno minha casa alaga, coloquei uma lona preta na frente para evitar que a água passe pelos buracos existentes no barro que formam as paredes. Meu filho só vive com febre por contas condições em que vivemos aqui, não temos banheiro e todas as necessidades fazemos em sacos', afirmou.
A faxineira Maria Domingas Belo Pereira, 28, natural do município de Alcântara, reside na Rua da Alegria, há quatro anos, com o companheiro e quatro filhos, em uma casa de taipa de apenas dois cômodos. Ela revelou que trabalha com faxina em serviços esporádicos e o marido faz 'bicos' de pedreiro, juntando tudo, a renda familiar mensal chega a quase R$ 300. Maria Domingas contou que na casa possui uma cama de casal onde ela dorme com o marido e uma de solteiro onde dormem os três filhos. 'A menina coloco para dormir na rede, assim não ficam misturados. Fiz o cadastro de três filhos em 2002, no Bolsa Família, mas até hoje nunca consegui receber nada. Sai da minha cidade para cá em busca de dias melhores, mas parece que não tive muito êxito. Vivemos em condições precárias, afinal nem um banheiro temos, mas graças à Deus meus filhos estão na escola', disse ela.
A aposentada Juracy Sousa Castro Veras, de 65 anos, explicou que reside com o marido e uma filha na Rua da Vitória, tendo como vizinho outro filho, além da nora e mais seis netos. Ela disse que os filhos, além de um neto possuem, problemas mentais e precisam de acompanhamento psicológico. 'Meu filho tem sérios problemas por isso trabalha apenas com bicos de ajudante de pedreiro e mal consegue sustentar a família. O filho dele de oito anos é portador de mobilidade reduzida e não fala. A minha aposentadoria e do meu marido é que serve de base para sustentar as 11 pessoas. meu neto faz tratamento na Apae e com a cadeira de rodas quebrada, temos que levá-lo nos braços até lá. Nossa vida é sofrida e muito difícil, aqui vivemos a mercê da criminalidade e somos obrigados a conviver com insetos e outros bichos. Acho que fomos esquecidos, porque a sensação que temos é que não existimos para os gestores públicos', concluiu.
No estudo a Região Nordeste foi apontada como a segunda com maior número de moradores em comunidades carentes: são 3.198.061 de pessoas ou 28,7% do total nacional; a maioria, nos Estados da Bahia (970.940) e Pernambuco (875.378). O Norte vem na sequencia, com 14,4% ou 1.849.604 milhão de pessoas – a grande maioria, 1.267.159 milhão (10,1%), no Pará.
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