segunda-feira, 25 de agosto de 2014

“Falavam que eu iria disputar o Senado para me livrar de processos. Não tenho medo disso”, diz Roseana Sarney

A governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), concedeu uma entrevista exclusiva para o Jornal Imparcial. Ela falou sobre o seu governo, o futuro político do grupo e criticou o prefeito de São Luís, Edivaldo Holanda Júnior.
Roseana disse ainda que não abandonará a política, mesmo fora da disputa eleitoral. E garantiu que entregará o governo ao sucessor, com várias obras realizadas na capital e interior do Estado.
Leia abaixo a entrevista na íntegra:
Governadora Roseana Sarney
Governadora Roseana Sarney
Governadora, como está sendo a transição do final de seu governo e da longa temporada no cargo com o dia da despedida?
Está acontecendo tranquilo, pois me preparei para esse momento. Desde quando fui eleita em 2010 já tinha essa posição. Isso não quer dizer que vou abandonar a política, mas deixar de concorrer a cargos políticos. Significa que vou continuar acompanhando o que estiver acontecendo no meu estado e no Brasil. Com a vida política que tenho, certamente que vou continuar dando opinião.
E qual o seu projeto para depois que sair do Palácio dos Leões?
Tenho um plano de continuar no Maranhão, montar um instituto para ajudar no que for possível o Maranhão a buscar explorar as suas potencialidades para se desenvolver mais ainda.
Quando assumiu esse mandato, em 2011, prometeu fazer o melhor governo de sua vida. A senhora conseguiu?
Tenho plena convicção de que fiz o melhor governo. Acontece, porém, que nem tudo em termos de investimentos, aparece imediatamente. Montamos toda a infraestrutura para acolher o desenvolvimento do Estado, com estradas asfaltadas ligando todos os municípios, a rede hospitalar, melhoramos a educação, trouxemos pesados investimentos empresariais para diversas regiões, melhoramos o sistema de esgoto, elevamos o Produto Interno Bruto, ampliamos o abastecimento de água de São Luís, abrimos novas avenidas.
Será que a população tem essa mesma avaliação?
Acredito que sim, pois me esforcei para ampliar os investimentos em todos os setores, tudo dentro da capacidade do governo. Por exemplo, tenho mais de 1.300 obras realizadas, em andamento e licitadas. Por exemplo, as estradas do Plano Rodoviário vou deixar praticamente terminadas, as obras de São Luís estão em fase de conclusão, são três penitenciárias. A educação, o Maranhão foi o primeiro estado a entregar os dados ao MEC, estamos deixando a Polícia aparelhada, aprovamos o estatuto do Magistério e do servidor público, a Univima, com suas tecnologias chegou a todos os municípios.
Quando se fala de penitenciárias não se pode deixar de citar o caos que se instalou em Pedrinhas. Depois daquela situação infernal que repercutiu no mundo, a senhora cumpriu as exigências e as metas estabelecidas pelos órgãos colegiados da área?
Às vezes das tragédias se retira lições construtivas. Depois daquela situação que abalou o governo, conseguir formar um conselho com representantes de todos os poderes, e estamos cumprindo todas as metas definidas. O Ministério Público está dando assistência aos presidiários, o Tribunal de Justiça acompanha tudo. O Conselho Penitenciário funciona e as penitenciárias novas estão quase prontas.
Qual seria a capacidade dos novos presídios?
São aproximadamente 700 vagas, mas até o fim do ano serão mais vagas abertas.
A violência e os altos índices de crimes são pontos mais destacados pela oposição nas críticas a seu governo. Como a senhora se defende?
Equipamos as polícias com viaturas e armamentos, alugamos helicópteros, fizemos concurso público, instalamos sistemas de monitoramento. Porém, tem que se dizer que a violência hoje foge ao controle de todos os governos e até dos países do mundo. Mas vale dizer que os dos fatos impactantes do Maranhão foi o crescimento da população, o que não correu no Nordeste. E quanto mais cresce a população, mais problemas aparecem, mas estamos preparados e combatendo o crime organizado.
O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tem sido um dos indicadores mais atacados de seu governo, porque o do Maranhão não acompanha o ritmo dos outros estados?
Olha se se for olhar pelos números dos indicadores, eles são os mais diversos. Mas temos ruins e também temos os bons. Se for escolher o IDH, composto por Educação, Longevidade e renda. Se você pegar a educação, o Maranhão está à frente da Bahia, Alagoas, de Sergipe, do Amazonas, do Piauí e do Pará. O analfabetismo, de 15 anos ou mais, em 1995 o analfabetismo absoluto era de 31,7% a taxa decresceu para 20,8%. Já o infantil, em 1995, o índice era de 28,2 e em 2012 era de 5%.
O PIB per capita também tem discrepância entre o que o seu governo fala e o real, retirados dos dados do governo federal. Como explicar isso?
O nosso PIB subiu de R$ 39 bilhões em 2009 para R$ %2 bilhões em 2011 e pode chegar a R$ 67 bilhões este ano, segundo dados do IMESC (Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômico e Cartográficos).
Quais são os gargalos que atrapalham o crescimento do Maranhão?
O maior gargalo é a população rural ser a maior do Brasil. Torna-se complicado o estado levar os serviços públicos aos povoados distantes e sem nenhuma estrutura, como construir uma escola nesses lugares e levar o professor lá. O IBGE diz que a população rural é 38%, mas as nossas estatísticas garantem que ela é 42%. Por isso, essa população termina impossibilidade de receber todos os serviços públicos. Mesmo assim, de 2009 a 2014, 82 empreendimentos foram implantados no Maranhão, com R$ 63,9 bilhões no setor privado de R$ 3,6 bilhões da área pública. Mais de 400 mil jovens foram qualificados no Maranhão Profissional e o programa Primeiro Emprego vai encerrar o ano com 15 beneficiados.
E a situação financeira do Maranhão tem sido dito que é crítica, por causa do endividamento. Qual é a realidade?
Olha, o Maranhão foi considerado o melhor estado em desempenho na área financeira, por isso conseguiu empréstimos de R$ 3,8 bilhões. E até agora só gastamos R$ 1 bilhão, ficando parta o próximo governo, R$ 2,8 bilhões. Além do mais, estamos totalmente dentro da Lei de Responsabilidade Fiscal quanto à folha de pessoal.
Mas esse empréstimo foi motivo de polêmica na Assembleia Legislativa, com acusações de que o dinheiro estaria sendo aplicado de forma eleitoreira.
Não tem como chamar de medida eleitoreira levar uma estrada ao município que nunca teve estrada. Se é eleitoreiro investir num hospital onde nunca teve hospital. Levar escola onde nunca teve escola. Levar água onde nunca teve água. É isso que estamos entregando à população. Falaram que o dinheiro seria empregado em convênios. Não existe isso. Não sou irresponsável, pois os recursos foram aplicados para haver retorno ao Estado. Quem fala isso parece não me conhecer. Cuidei com responsabilidade dos meus governos, para os quais fui eleita sempre no primeiro turno.
A senhora vai participar da campanha de Lobão Filho?
Já estou participando. Fora do meu horário de trabalho vou participar sim. Estou dizendo que vou largar a política, mas vou continuar sendo política. Vou deixar de competir, de disputar cargos eleitorais, mas política nunca deixarei de ser.
Por que se falou tanto em parceria com a Prefeitura de São Luís, mas nunca aconteceu essa relação de fato?
Não é verdade. Sempre tivemos parceria de fato na área de cultura, a Secretária de Saúde do Município sempre está com o meu secretário de Saúde. Você não acha que as UPAs são parceria com a prefeitura? A Via Expressa não é parceria com o município? As outras avenidas não são parcerias? Ou a prefeitura acha que parceria é só dar dinheiro?
Mas a prefeitura reclama, governadora.
Sem razão. Se eles acham que parceria é só dar dinheiro, também poderia ir pedir dinheiro à Prefeitura. Parceria é parceria, ou não? Estou fazendo o Espigão, a avenida Metropolitana, a Quarto Centenário, via Expressa. Ano passado telefonei três vezes para o prefeito convidando-o a vir discutir problemas da cidade e ele nunca veio. Mandava era secretários. Sempre estive aberta a dialogar e torço para ele fazer uma boa administração, porque São Luís é minha cidade.
Depois que a senhoria deixar o governo, vai morar na Europa, como tem sido especulado?
(Rindo) nunca pensei em sair daqui. Aqui nasci e vivi. É minha cidade. Nunca sairei, só se for para descansar.
O que a senhoria pensou a fazer no governo e não conseguiu?
Queria fazer tudo. Mas os recursos são limitados. Tudo que fiz foi tentando fazer o melhor possível.
O próximo governador receberá as condições para dar uma arrancada de saída?
Vai ter uma situação bem melhor do que eu. Ele vai até poder fazer mais do que fiz em cima a infraestrutura que estou deixando pronta.
Se o próximo governador for seu adversário Flávio Dino, a senhora passará a faixa?
Naturalmente, não tenho receio dessas coisas. Ando de cabeça erguida.
Governadora, gostaria que a senhora comentasse as denúncias de pagamento de propina por construtora a pessoas de seu governo.
Até agora nada foi comprovado sobre o que saiu. Portanto, me sinto ultrajada, sou uma pessoa séria. Desafio a algum empresário, empreiteiro, ou quem quer que seja a dizer que me deu dinheiro. Estou tranquila, tão tranquila que nem sair candidata a senadora. Falavam que eu iria disputar o Senado para me livrar de processos. Não tenho medo disso. Ando de cabeça erguida.

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