quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Eduardo Campos morre na mesma data do avô, Miguel Arraes

Eduardo Campos: tragédia e luto na política brasileira
Eduardo Campos: tragédia e luto na política brasileira
RIO (OGLOBO) – Era a família a raiz da vida política de Eduardo Campos. O sonho de chegar à Presidência foi ceifado tragicamente. Eduardo Henrique Accioly Campos, ou Dudu, nasceu e cresceu com o DNA político de seu avô, Miguel Arraes, político emblemático do nordeste brasileiro, uma marca da esquerda do país. Tinha uma relação afetiva com a cultura nordestina. Um de seus mais ativos fãs partiu há pouco mais de um mês: o escritor Ariano Suassuna. Em entrevista ao Globo, em junho, Suassuna falava com admiração de pai sobre o afilhado informal. Ex-secretário de estado na gestão de Campos, Suassuana classificou o candidato do PSB como “o político mais brilhante que conheci na vida”. E jovem: Campos completara 49 anos no último sábado. O trágico acidente que matou Campos acontece na mesma data, 13 de agosto, que seu avô, Miguel Arraes, morreu, em 2005.
A política corria em suas veias desde menino. Campos chegou a ela como todo jovem engajado, pelo movimento estudantil. Ocupou secretarias do governo de seu avô. E não era só a política que o fazia um homem de família. Foi casado com a primeira namorada, Renata, também economista e auditora do Tribunal de Contas do Estado, mãe de seus cinco filhos. O mais novo, Miguel, de apenas oito meses. É uma família reservada, discreta. Sempre à margem da política, sempre nos bastidores, sempre reservado. A discrição não impedia Renata de participar de cada uma das decisões políticas do marido. É apontada por aliados como a pessoa mais influente na carreira política de Campos. E companheira em casa. E na política.
Nascido em Recife, Campos é filho da deputada Ana Arraes e do escritor Maximiano Campos. Se tornou economista, formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Lá presidiu o diretório acadêmico, desde 1985. Dali para a carreira que o levou à campanha que começara oficialmente esse mês, foi rápido. Ainda jovem, trocou um mestrado que faria nos Estados Unidos, para participar da campanha da reeleição do avô Arraes ao governo de Pernambuco. A paixão pela carreira ficaria ali evidente. Foi seu chefe de gabinete. Em 1990, já estava filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), partido ao qual se manteve fiel ao longo de toda a vida.
Em 1994, chegou ao Congresso Nacional, para onde foi eleito com 133 mil votos, Em 1998, foi o deputado mais votado de Pernambuco, com 173.657 votos. Ainda que adversário político, foi um fiel amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Chegou a dizer, nesta campanha eleitoral, que não conseguiria bater no amigo, ainda que em trincheiras políticas opostas.
Foi uma aliança de 11 anos com o petista. A crise com o aliado começou em setembro do ano passado, quando o PT deixou seu governo, em Pernambuco. As críticas na pré-campanha e nesse inícido de batalha eleitoral que Campos começou a travar, sempre foram contra Dilma e contra o governo petista. Lula ficou triste com o rompimento com o amigo, que integrou seu governo no início do governo petista (foi seu ministro de Ciência e Tecnologia).
Campos era, talvez pelo temperamento afável, também amigo de todas as horas de seu outro adversário pontual, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. Ariano, na entrevista ao GLOBO em que ajudava a traçar o perfil do amigo, chegou a dizer que tornar Lula adversário direto de Campos seria dramático para os dois.
Com uma vida financeira confortável, Campos sempre rejeitou a comparação com os coronéis nordestinos, que sempre dominaram a política na região. Para os amigos, era tido como um político vocacionado para o poder. Era visto exatamente como a terceira via do poder: estava entre o socialismo extremado e o liberalismo que marca as políticas ligadas ao PSDB.
Ao seu lado, estava desde o começo do ano a senadora Marina Silva. Uma chapa desde o início polêmica. A ex-ministra, adversária ferrenha do agronegócio, tinha arestas mal aparadas com Campos. Havia desacordos nos estados, como em São Paulo: o PSB decidira apoiar a reeleição do governador tucano Geraldo Alckmin, e será o vice na chapa tucana. Mas o entendimento era uma busca permamente entre eles, a despeito de uma forte resistência na base de Marina Silva à maneira como o PSB conduziu a estratégia política pelo país.
A popularidade em Pernambuco era a que perseguia no restante do país. Tornar-se uma figura nacional era o desafio do candidato. Viajou pelo país, no ano passado, para criar essa capilaridade. Teria dois minutos no programa de TV, contra 12 de Dilma e seis de Aécio. Seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral foi de R$ 547 mil.
Nos sete anos que ocupou o governo de Pernambuco, Campos se destacou por tocar obras de infraestrutura, como a ferrovia Transnordestina, e a recuperação da BR-101. As contas públicas do candidato foram colocadas na internet, no portal da Transparência — a ONG Transparência Brasil considerou o portal o segundo melhor do país. Houve ainda redução dos índices de violência: o número de homicídios caiu 39,10%. desde o início do programa. Na curta campanha, vinha pontuando mudança necessárias na política econômica, apostando no ponto frágil da gestão Dilma Rousseff: o baixo crescimento do país.
Abaixo, frases da curta campanha de Eduardo Campos à Presidência da República:
“Não tenho nenhum projeto de disputar a reeleição. Não vou ser eleito pensando em reeleição”.
“O Brasil não aguenta mais essa disputa em que o PT diz que o PSDB não fez nada pelo Brasil, e isso não é verdade. E o PSDB diz que o PT é um partido cheio de corrupto que não fez nada pelo Brasil, o que é outra inverdade”.
“Se o PT tivesse escolhido o presidente Lula como candidato a presidente, nós, eu e (a candidata a vice) Marina (Silva), estaríamos aqui discutindo com ele, com a maior a tranquilidade do mundo”.
“Dizer que o governo Lula não foi muito melhor do que este governo de Dilma seria negar a realidade.”
“Há muito mau humor nas ruas. Isso representa uma oportunidade. O nosso desafio é mobilizar esse sentimento para votar pela mudança.”
“Quem era mãe do PAC, sobre a Dilma, ficou sendo a madrinha da inflação”.
“Não tenho nenhum preconceito com privatizações. Mas não enxergo no Brasil o que privatizar. Enxergo o que (é preciso) conceder”.
“O Bolsa Família e os programas sociais não são conquista de partido nenhum, são conquista da luta do povo brasileiro. Vamos acabar com esse terrorismo, com a falta de respeito ao povo, com os que querem discutir o Brasil com ameaças e terrorismo. Queremos tirar é a corrupção, acabar com o patrimonialismo, com os 39 ministérios e um bando de gente incompetente”.
“Brasília está de costas para o Brasil. Brasília tem o pacto dos velhos políticos, contra o povo, contra a distribuição de renda , contra os trabalhadores”.

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